segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Elephant Gun

          


Não que te esquecer adiantasse. Não. Esquecer-te só apagaria uma parte boa. Uma parte que faço questão de lembrar todos os dias. Sobretudo naqueles nos quais seu cheiro faz questão de ser onipresente. Mas tenho que esquecer. E por quê? Porque você insiste em não olhar o melhor de si mesmo e aceita as migalhas de pães que têm te oferecido como banquete. Quem sou eu para te julgar? Não sou eu mesma que me inclino e aceito, com sorriso nos lábios e coração disparado, as migalhas que me oferece? Sim. Aceito e me sacio. O pouco seu é o muito que me sobrepuja.

Rápidos somos em julgamentos. Indique-me uma só falha de caráter que não provenha da fraqueza. Fato é que somos ridículos. Pulhas. Indignos. Mais miseráveis do que qualquer dicionário seja capaz de qualificar. Ou um psicólogo. Ou psiquiatra. Ou psicopata. Não, este último me entenderia.

Os suicidas.

Tenho o sorriso benevolente dos que deram cabo a si mesmos. Sei que a fraqueza em última instância é capaz de trincar o próprio espelho. Penso muito sobre isso. Sobre como a fraqueza nada mais é que a confissão do mais alto narcisismo. Só alguém que se ama demais, que se poupa demais, que se guarda demais é capaz de se deixar fraco. O fracote nada mais é que um orgulhoso.

E eu sou assim: fraca. Derramo-me em ti como se fosse a única possibilidade. A única saída. Mas nada, entrego-me vez após vez porque a  única coisa que penso é em meu saciar.



Ouvindo: Elephant Gun

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Das coisas como são


Porque eu ainda queria você aqui. Porque ainda sinto o cheiro do seu suor. O peso do seu corpo cansado sobre o meu. Porque mesmo querendo dizer adeus, a frase que sai é fica mais um pouco. Porque sei fazer de cor o contorno das suas mãos. Porque todas as minhas músicas preferidas serviram de fundo para o nosso amor. Porque eu ainda quero mesmo sabendo que não deveria. Porque é difícil pra cacete. Porque seu cabelo é sedoso e pesado e escorregava entre os meus dedos como se tivessem crescido apenas para esse propósito. Porque eu vejo alguma sinceridade em seus olhos. Porque eu não sei explicar. Porque eu não posso mais e não vou. Fim.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Luzia-criança

                                      

Luzia brincava com um cacho dos cabelos. Enroscava no pequeno dedo indicador e depois soltava. Via o vai e vem da mola. Uma mola suave e castanha que pulava e continuava aos saltitos até parar. Passar o fim de semana na casa da avó era sempre uma lacuna, um espaço a ser preenchido nos seus dias já chatos de criança na escola. Se bem que achava a Tia Mariana uma ótima professora e gostava dos desenhos que ela fazia. Chato mesmo, de verdade, eram os traços que tinha que copiar e que falavam para ela que um dia viraria letra. L-E-T-R-A, letra letra letra letra letra..brincava com as palavras como mais velha continuaria fazendo, só que por escrito.

Correu para o balanço. O balanço de corda nada tinha a ver com o que tinha no parquinho da sua casa. Lá era feito num cercado de areia onde ficava tudo junto: o balanço feito de ferro, o escorregador em 3 tamanhos e um gira-gira. Lá era chato. Chato e seco. Mamãe dizia que era a parte do condomimio destinado a área de recleação. Não entendia. Sabia que não era como o balanço da vó, que tinha um cheiro gostoso e tinha a sombra boa da árvore.

Um passarinho estranho, não desses coloridões que ficam nas gaiolas, mas um pássaro branco e preto, que ficava de pulinho em pulinho, sem habilidade nenhuma para andar mas muita para voar, foi espreitá-la. Girava a cabeça de um lado ao outro. Luzia o imitou. Que quer, passarinho?

O passarinho deu alguns saltitos e quando ela pulou do balanço para pegá-lo, ele voou. Guardou essa cena na gaveta da memória e só a retirou muito tempo mais tarde, em uma aula de Literatura, quando a vozinha há muito já tinha ido voar com o passarinho preto e branco.

*uma homenagem ao Dia das Crianças
*e a Luna Sanchez que sempre me lembra que já passou o tempo de eu postar   =)

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A vida e o pisca-alerta

A vida é como o trânsito. Existem regras para o bom funcionamento, regras para que tudo flua tranquilamente, sem engarrafamentos, sem acidentes.

Às vezes, as regras são estúpidas. A sinalização não é clara. Daí você pode simplesmente fazer o que quer e correr o risco de ser multado ou cair numa ladeira e entender o porquê da placa “proibido seguir em frente”.

Mas a metáfora vida/trânsito não é perfeita. Não existe na vida nenhum dispositivo de “pisca-alerta”. Já perceberam como o pisca-alerta valida quase tudo?  Você pára onde não pode – liga o pisca-alerta. Você quer andar a 10 km/h, se ligar o pisca-alerta, as pessoas vão achar que está tendo problemas e dificilmente vão buzinar e xingar, apesar de se irritarem muito. Se seu carro resolver fazer birra e parar no meio da Avenida Paulista em São Paulo, a maioria das pessoas irá te perdoar e algumas ficarão até com vergonha  por você.

A vida não é assim. Você não pode jogar tudo para o alto e ligar o pisca-alerta. Se alguma coisa não está indo bem não tem como você ligar o seu pisca-alerta e esperar até saber exatamente o que fazer. Não pode. E outra, quando você não está bem dificilmente poderá sinalizar isso. O jeito é seguir em frente mesmo com os pneus murchos e o motor pifando.

A vida podia ter seu pisca-alerta. Todo mundo deveria ter seu momento "café com leite": "Deixa ele, ele tá com problemas, não vê que o pisca-alerta está ligado?"



quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Gente que ama sozinha.

Algumas pessoas aprenderam o que é amor nos filmes. Devem ter assistido “Meu primeiro amor”, “Como se fosse a primeira vez”, “Ghost”, “Antes que o dia termine”, “Um amor para recordar” e por aí vai...tem gente que aprendeu a amar hipoteticamente. Sim, porque os amores de filmes podem existir sim, mas com o orgulho inflado das pessoas atualmente, é beeeem³ mais difícil.

Tem gente que não ama o outro, ama o sentimento. Explico. A pessoa se relaciona com outra que não a trata bem, vive instável, nunca sabe o que quer, faz com que a pessoa chore ¾ do tempo. Mas a pessoa insiste. “Eu amo” é a desculpa da vez. Ama o que? Ama estar amando, isso sim. Não a pessoa. E mesmo que amasse a pessoa, julgar que esse sentimento é suficiente é um dos enganos que tem sido propagado desde sempre. “Havendo amor, é o que basta”. Mentira. Basta não. E o restante? A amizade, o companheirismo, o respeito? A verdade é que sim, esses sentimentos deveriam ser inerentes ao amor, se a pessoa “ama” a outra ela deveria respeitar, ser companheira, mais estável e etc., para mim quando faltam essas coisas nem é amor – o amor é outra coisa. Mas já que a pessoa está considerando esse sentimento que ela tem pela outra pessoa como amor, é claro que esse amor não basta para o relacionamento. Não basta para, pelo menos, não ser infeliz. Tem pessoas que gostam do fato de ter alguém “pra chamar de seu”. Mas se você não tem controle sobre si mesmo, como pensar que tem o outro? Se o amor não é suficiente para ficar bem, ele deveria ser suficiente para ao menos, dizer adeus.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Virou texto

Lembranças não me atormentam. Guardo de nós dois as boas lembranças que tivemos. E se elas não me fazem voltar à você, tampouco se tornam peso. As lembranças são tão suaves como o amor que tivemos. Tão leves como já fomos um ao outro.

O ursinho marrom continua sobre a prateleira. A caneca guardada, o rádio, a Kombi que é caixa de som. O perfume e o hidratante estão sobre a penteadeira. A calcinha branca da Lupo que você me deu ainda está em minha gaveta. Agendas, livros, a sandália branca com o fundo de oncinha improvável. O vestido verde, seu preferido, uso como pijama agora.

Lembranças de quando andei em cima dos seus pés. De quando viajei 100 km a noite e me perdi, só por saudade. De quando vibrei de alegria ao ganhar uma laranja e um alfajor.

Metade do meu notebook é seu. Meu relógio. Celular. O cofrinho de leão. O brinco do meu segundo furo na orelha. As alianças guardadas na caixinha, que estão com você. O livro do Pasquim, que pretendo um dia terminar de ler, está abraçado pelos outros tantos em minha estante. Os cd’s que gravou pra mim, especialmente aquele com nossas fotos impressas nele estão em meu porta-cd, esse objeto tão arcaico quanto uma máquina de escrever, me parece. Meus discos de vinil ainda estão em sua casa. O meu medo por montanhas-russas é culpa sua.

E o meu amor continua aqui, junto com as lembranças, junto com o bem querer. Nosso amor não cabe em uma mala, muito menos os momentos bons. E mesmo que coubessem, para mim, ela, a mala, teria o peso de uma pequena valise, porque o amor tem que ser assim: leve.

Obs.:



A seta e o Alvo - Paulinho Moska

quarta-feira, 27 de julho de 2011

O que eu ando perdendo?

Hoje eu estou lá no Meninas Improváveis falando sobre um montão de coisa que na verdade é meio que uma só - ou não?  o.0



terça-feira, 19 de julho de 2011

Insólito

A não familiaridade dos fatos. Como se preparar para algo que nem em teoria deveria acontecer? Não me coloco fora do campo de batalha. Não. No entanto, não estou pronta para o que há de vir. Para desembainhar a espada. É com os joelhos tremendo e o escudo pronto a cair que me disponho à luta. O peso de qualquer armadura me faz dispensá-la. É com o peito aberto e sem embaraço que caminho. E se há o peso do receio, há também o impulso da vontade.  Há certas brigas que se apresentam para nós sem que haja a possibilidade do não. Não diria não, de qualquer forma. Sou do sim. Sou do aceito. Do seja bem-vindo. Reconheço minha inabilidade para a luta armada, mas como partir em disparada quando se está em pleno campo de batalha?

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Não é um caso de amor

Enlaçava os braços ao redor dele. Os cabelos muito pretos, lisos, escorriam pelo peito. Estava olhando o teto e se lembrando da última parte que leu do livro Travessuras da menina má. Olhou pra ele e ele também olhava o teto. Esse era um momento que poderia definir com exatidão a concepção que ela tinha sobre languidez. Brincava com os pelos do peito dele, alguns ruivos. A boca doía um pouco por causa das mordidas sofridas. O cheiro dele ainda em sua mão. Pensava muito sobre nada. A cabeça ocupada por um esvaziamento, se é que o vazio ocupa alguma coisa. Certamente, a física quântica diria que sim. Enfim, nada interessava. Aconchegou novamente a cabeça no peito dele. Automaticamente ele começou a passar a mão em seus cabelos, levantava e depois deixava que o próprio peso os fizesse cair. Mordeu o ombro de leve. Dormiram sem perceber. Ela acordaria ainda tendo o cheiro do corpo dele em sua mão.




Música: Dr. Feelgood - Aretha Franklin (recomenda-se ler ouvindo a música)

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O amor não precisa de pretextos

Ontem foi o dia dos namorados. É uma data legal. Quem namora ganha presente, se individa, fica na frente de restaurantes por horas, lingeries são tiradas dos estoques. O "amor está no ar", é a previsão de tempo.

Eu achava bem legal... bom, de certa forma ainda acho. Mas eu acho mesmo que o amor não precisa de pretextos. Ele não precisa de um post-it na geladeira te lembrando: dia de dizer eu te amo. Não, não precisa.

O amor entre amantes dispensa formalidades. Ele não precisa de uma meia 7/8 pra dar um up. Ele não quer o perfume da temporada. Eu escolho esse e você aquele e assim nos provamos nosso amor.

O amor não sabe nada de créditos e parcelamento. O amor não aceita farsa. Ele sabe dar um sorriso amarelo quando recebe um presente dizendo que ama, mas nos outros 364 dias a mensagem é “nem tanto assim”. O amor não gosta de esmola, nem mesmo a embrulhada em papel colorido e laço de cetim.

O amor não aceita barganha, relacionamentos sim.

Não há nada mais deprimente que presentes que cobrem lacunas. “A falta que você me faz pode ser suprimida por cifras”, é isso?

O domingo dos Dia dos Namorados pode ser um conto de fadas, mas na segunda-feira a leitura do dia é a prosa do Bukowski.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Aquele que detém o objeto de desejo do outro exerce poder sobre ele.

Subjugar vontades. Nada mais castrante que passar ao outro a vontade que é sua. Esperar o tempo. Esperar o despertar. Esperar, esperar e esperar. zZzZz. A sala de espera é o lugar onde esmagam testículos. Quebrantam luxúrias. Massacram a libido. A sala de espera é um sofá pastel com música ambiente. A sala de espera te lembra que você é um passivo – haja o que houver. A espera te põe de quatro e refresca sua memória sobre quem manda. A sala de espera pega o seu verbo querer e enfia numa revista de fofoca. A espera te joga na cara que não importa o quanto você queira ser fagulha, ela é geleira. A espera é uma musiquinha chata de transferência de chamada dizendo que você precisa ter autocontrole. Ela tem.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Indique uma banda ou música - Meninas Improváveis

Não é toda semana que faço uma divulgaçãozinha do blog Meninas Improváveis, mas essa semana eu estou gostando tanto, mas tanto do tema, que tive que falar.

Essa semana cada uma indicará uma música ou banda que goste ou que talvez não goste tanto mais queira comentar algo a respeito, por que não?

E aí a Ana B. já indicou a dela e a Mari também (clique nos nomes delas e vá para as postagens).

Acho que já escolhi a minha, não sei, ainda posso mudar. Dê uma puladinha e faça você também a sua sugestão!

beijo

terça-feira, 3 de maio de 2011

No salão de beleza

Ana trabalhava como manicure há 7 anos. Essa profissão veio por herança e ela não pensou muito a respeito. Não ganhava muito, mas pelo que ouvia, ganhava mais que muitas pessoas formadas por aí e ela tinha terminado apenas o Ensino Fundamental.

Ana atendia muitas senhorinhas, como as chamava, mulheres que já haviam passado dos 70 há tempos. Cúticula fina, diabetes, cores vermelhas e cintilantes (Amor perolado ou Maça do Amor) ou clarinho (Zazá e Baila Comigo), e não adiantava ela explicar que o alguns já tinham saído de linha porque elas não acreditavam, então ela passava alguma coisa parecida e pronto. O que as senhorinhas queriam na verdade era conversar e, de quebra, fazer as unhas.

Dona Lia era uma senhora bonita em seus 76 anos de idade. Passava a cor acaju nos cabelos, e o esforço em dizer que era muito vermelho para ela era inútil. Ela era viúva – coisa que não cansava de agradecer – e tinha 3 filhos, dois homens e uma mulher, e alguns netos. Um neto, segundo ela, era um gênio e estava na faculdade de medicina agora, a despeito de ter sofrido bullyng na escola.

Marcar hora era sempre uma dificuldade, Ana tinha que berrar todas as vezes o horário que tinha marcado para Dona Lia, mas como ela era uma senhorinha doce, Ana não se irritava com a surdez. Chegava o horário Dona Lia entrava no salão cheirando a talco e se sentava na mesinha e disparava a falar:

- Sabe minha filha, quase deixei queimar o arroz agora, meu filho que me alertou que estava cheirando a queimado. Essas panelas novas não prestam, são muito fininhas, queimam tudo. E sabe? Eu não sinto muito cheiro. Meu nariz não é bom. É a idade, sabe? Apesar que eu nunca fui muito boa com cheiros e tudo. Agora, ouvir eu ouço bem, mas cheiro – muito difícil.

- A senhora ouve muito bem?

 - Que você falou, minha filha?

- A SENHORA OUVE BEM?

- Vou passar o de sempre, o roxinho. Então, como eu estava dizendo. Ouvir eu sempre ouvi muito bem, agora o nariz, não presta.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Amor de Papelão

Essa semana está havendo uma espécie de #FF só que a semana inteira e indicando blogs lá no Meninas Improváveis.
É difícil indicar um blog, viu? Eu pensei em indicar o Amor em Papelão, que o Ivan tinha dito que ia parar mas graças às Musas ele voltou a postar porque tem amor demais para por em Papelão.
Não indiquei lá, mas super indico aqui. Visite, é bonito: Amor em Papelão.
Lá no Meninas Improváveis eu revivi meus momentos no A Céu Aberto – da Boca e indiquei as meninas que escreviam comigo: a Luna Sanches, a Nara, a Déia, a Miss Universo Próprio, a Menina Misteriosa e a Dani.
Visitem o Amor de Papelão, O Meninas Improváveis e os blogs delas, será que dá tempo? Dá sim, né? Feriadão a vista.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Nostalgia

Rebolava de um lado a outro, enquanto picava as folhinhas de manjericão. A taça de vinho tinto em cima de alguns pratos que tinha separado.

O cabelo preso com uma caneta que tinha pego em cima da mesinha do telefone. Um mecha fugidia escorria pela nuca e para em cima da rendinha da blusa branca. Sem shorts, a calcinha de algodão verde claro ficava à mostra.

Ouvia Sexual Healing, do Marvin Gaye.


Essa música era de uma lascividade que despertava o apetite. Descansou a faca sobre a tábua e foi pegar o azeite que tinha comprado e esquecido na mesa da sala.
Olhou as fotos penduradas pela sala. Tanta gente, tantos momentos, tantos gostos reunidos.

- Se eu ficar perdendo tempo aqui não vai dar tempo.

Voltou para a cozinha e foi ver o assado no forno. Pegou um pouco de alecrim e espalhou pelo molho. Adorava cozinhar.

A panela pegou pressão ao mesmo tempo que What's Going On começava a tocar.



No meio da cozinha, dançava levando levemente a barra da blusa. Levantava  os braços e depois descia passando a mão pela própria silhueta. Mexia os ombros, descia e subia as mãos deslizando suave sobre o colo.

Aproveitou a mudança de música pra voltar a picar as coisas. Pegou o vidro de azeitonas sem caroço. Comeu uma.

A campainha toca. Ela corre para atender. Olha pelo olho mágico da porta. Era ele. Abre.

- Vim mais cedo.

Na cozinha começa a tocar Let's Get It On.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Atitude: substantivo feminino

Quando a gente assiste a um filme biográfico é possível perceber como pequenas coisas podem fazer a diferença. Essa semana no Meninas Improváveis estamos falando sobre mulheres que foram além do que disseram ou acreditavam que elas podiam ir. Já falamos de Erin Brockovich, Indira Gandhi, e Rosa Parks. Hoje nós falaremos de alguém que está fazendo história também. Talvez não saia em jornais. Talvez não façam nenhum filme sobre ela. Mas ela está fazendo o que acha correto, apesar das consequências, ou talvez por causa delas. A história dela é semelhante a de centenas de brasileiras, e é justamente por isso que é importa.

 

Hoje a Atitude: substantivo feminino está no Meninas Improváveis. Clique aqui e vá para lá.

terça-feira, 22 de março de 2011

Namorada espanca namorado

Eu já falei pra ela que o meu coração
É aventureiro, gosta de emoção
Liga no meu celular falando um monte de palavrão
Pergunta onde estou e diz que quer saber
Ai de mim se eu não responder
Diz que se me achar vai me quebrar, vai me moer

Ela me pega de um jeito que me deixa louco
É cada tapa, é cada soco

Mas eu sou sem-vergonha
E ela é violenta
Quanto mais me bate, meu amor aumenta
Eu sigo enlouquecendo, sempre apanhando
Meu amor está crescendo, aumentando
 “



Essa belezinha de texto aí é de uma música (cof cof cof) interpretada pela dupla sertaneja Hugo Pena e Gabriel. Não sei se é de autoria deles, mas pra mim não faz diferença porque quero comentar a letra.

Alguém pode me explicar como isso pode fazer sucesso? A mulher liga pro cara xingando, chega em casa, mete a mão nele, e quando mais ela bate, mais ele se apaixona.

Não quero entrar no mérito que é um homem apanhando. Afirmar que apanha e quanto mais apanha mais gosta é vergonhoso e ponto. Tanto faz o sexo do agredido.

Eu sei que há músicas que são feitas apenas para relaxar. Ninguém quer ouvir 24 horas por dia Belchior ou qualquer coisa do gênero. Mas não há absolutamente nada que me convença que uma música dessa é necessária. Não, não há individualidade. Se há quem goste de apanhar por ciúmes, sinto muito, essa pessoa tem os valores muito, mas muito³, distorcidos.

A violência é algo tão covarde, humilhante, digno de reprovação, que eu não vejo como uma música pode celebrar isso. Muito menos como pessoas aprovam isso. Se fosse um funk ou um rap seria um absurdo, mas como é sertanejo universitário, tudo bem.

Precisamos rever conceitos, os de quem ouve, os de quem faz as letras e das rádios, que tocam isso por aí como se você normalzinho.

Se você quando lê o título do post não acha bonito, por que na letra acharia?


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Enlouqueça junto com Cisne Negro

Se você nunca entendeu bem o que significa catarse, vá assistir o filme Cisne Negro (Black Swan, 2010).

Um dos melhores filmes que assisti, um filme denso, inquietante, lascivo. Um filme que te prende a respiração por toda uma cena. Um filmão.

A protagonista Nina (Natalie Portman) é uma bailarina que tenta finalmente decolar em sua carreira, e para isso deseja ser a bailarina principal de O lago dos cisnes, que exige que ela interprete o papel de irmãs gêmeas, uma boa e outra má, que por causa de um feitiço são “aprisionadas” em formas de cisnes – O cisne negro e O cisne branco.

O filme tem a seu favor a trilha. Nada mais propício para condensar as angústias e sutilezas humanas que a música clássica. E somos levados por toda a trama como se nós mesmos fôssemos a Nina, como se nós mesmos dependêssemos dela.

Nina é perfeita para o Cisne Branco, é doce, dedicada, pura. Mas para ter o papel, para desempenhá-lo com perfeição, que é seu objetivo, ela precisa ser o Cisne Negro, uma sedutora, forte, destemida e livre (e destrutiva).

Ela terá que se enfrentar.

Tantos opostos, antônimos, contrários, divergentes. O filme é sempre um reflexo de si mesmo.

Desafio a você, leitor, que depois de assistir ao filme me diga com toda a certeza quem é o  antagonista nessa estória. É de fato, um desafio.

Na realidade, é delicado traçar o que é real e o que é delírio, é pelos olhos de Nina que vemos o seu mundo. É com ela que perdemos, nós também, o juízo. É difícil sair do filme e não evitar um espelho com medo do que nele seja refletido.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Eu pitaco mesmo!

Um monte de coisas acontecendo mundo a fora e a gente não pode deixar de comentar, não é? Pensando nisso, a Ana B. criou o blog Manchete de Ontem.

Lá 14 blogueiros escreverão sobre fatos que viraram notícia, seja de ontem mesmo, seja há 30 anos.

Pois bem, hoje é minha primeira participação que será quinzenal. Às sextas-feiras.

Dê um pulinho lá, hoje eu falo sobre osso, mar vermelho, Sarney e suas safadezas e Egito.

Clique aqui.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Pelo direito de ser feio.


Esses dias li um texto, e não consigo achar onde foi, em que o autor argumentava que quando ele era mais novo as pessoas morriam por fatalidade, acidente, idade..., enfim, morriam, mas que hoje em dia as pessoas morrem por incompetência. Ele argumentava, ironicamente, que hoje não se morre simplesmente, se morre porque comeu demais, bebeu demais, fumou, comeu gordura trans, não fez exercício, jogou sacola plástica na rua, enfim, não teve aquela vida saudável que as pessoas hoje em dia apregoam que todo o mundo deve ter.

Desculpe dizer, mas se você não morrer com pelo menos 132 anos, você é um fracassado.

Essa “filosofia” ridícula que anda sendo disseminada, a dos super-homens e super-mulheres, afeta outras áreas. Você e eu não temos mais o direito de sermos feios.

Ow! Eu quero minha liberdade de volta. Antigamente as pessoas eram feias, tinham os dentes tortos, uma barriguinha saliente e ok, tudo bem. O tempo e o azar chegam para todos. Mas atualmente não é mais assim. Você não pode simplesmente pegar sua cara desprivilegiada e sair pela rua com uma blusa brega. Além de feio você será considerado desleixado. Toda pessoa que não se encaixar no padrão de beleza de uma minoria photoshopada é excluída.

Eu quero ser feio, e daí? Posso?

Não, não pode – grita a sociedade hipócrita, que se aperta dentro de uma cinta, um sutiã de bojo com bolha e se esconde atrás do pancake.

Quantas vezes eu ouço que determinado bar, restaurante é muito bom – só tem gente bonita?

E por acaso eu estou indo lá para comer e beber as pessoas? Bonitas segundo quem? A Playboy? A Você S/A? O fato é que somos humanos, feiozinhos e desengonçados. E sobretudo, a grande maioria: pobres.

A liberdade de ser feio foi excluída porque há muitos recursos hoje, é o que dizem. Que vá fazer plástica, lifting, drenagem, academia, dieta, tome remédio, escovas progressivas/inteligentes/docesefrutas, que nasça de novo, se preciso for.

Agora me digam aí, rainhas e reis da beleza, com que dinheiro? Com os R$ 560,00 que as pessoas se rebolam para sobreviver?

Eu conheço pessoas lindas, inteligentes, divertidas e tudo o mais. Um pacotão completo, sabe? E conheço outras que não são tão bonitas mas a inteligência delas é afrodisíaca. Conheço pessoas que são divertidas e espertas e – meu Deus, apesar daquele nariz, eu o quero pra mim.

É preciso rever valores, realidades, preconceitos. A mídia bombardeia um padrão de beleza que não é nosso. Que não é o natural, o palpável, o atingível. Eu não vejo muitas propagandas dizendo por aí que você tem que procurar se interar mais sobre assuntos variados e ser uma pessoa mais leve, divertida. E isso sim é possível.

Eu não sou a Angelina Jolie. Me faltam uns 20 cm de altura, quilos a menos, boca a mais, cor do olho, centímetros de cabelos a mais – me falta ser quem eu não sou.

Eu quero poder ser normal, se isso for ser feio, que seja. Eu não sou feita de fibra e plástico.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Dívidas, para que te quero?


Alguém me fala quem inventou o bendito “clima natalino” que eu quero dar um soco na cara.

Ahhh, estou brincando, eu nem tenho esses instintos agressivos, mas que eu queria ter um conversinha muito séria com quem ligou as palavras natal-presente, isso eu queria.

Depois que o fim de ano passa, a gente encara pelo menos três meses de ressaca – e o pior, é ressaca financeira.

Estou quase fazendo um bazar para superá-la e é sobre isso (as contas e não o bazar), que eu escrevo lá no Meninas Improváveis.

Clique aqui e vá para lá.


Obs.: Se você ficar com dó, eu passo uma conta MINHA para depósitos ^^

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

2011 - Go!


Já estamos próximos ao fim de janeiro, quase não há mais resquícios de “Ano Novo”, o ano ainda está novo mas parece velho demais.

Mas eu, às vezes, sou lerda. Só agora fui começar a organizar, só ontem fiz a temível faxina de início de ano, e apenas hoje caminharei confiante e decidida para o meu quarto e tirarei de lá mais ou menos 3 toneladas e meia de coisa inúteis.
Roupas que nunca mais me servirão e se servirem eu é que não vou querer usá-las porque afinal, merecerei roupas novas. Milhões de papeizinhos de rascunhos que não mais me interessam. Vidros de perfumes/hidratantes que estão vencidos, seja por suas datas de fabricação seja por minha não vontade  de usá-los. Calçados que não mais acompanharão meus passos. Lápis de cor, papéis, canetas, tudo acumulado desde a minha primeira série. Mochilas também acumuladas desde a minha primeira série. Bolsas que ainda guardo achando que haverá o momento em que direi: sim, hoje irei com essa!, mas não, não irei, porque sempre uso a mesma.

Relógios parados, quebrados – obsoletos.

Sacolas de coisas que já foram separadas para dar embora. Trecos e mais trecos. Por que guardei tudo isso?

Irei para a minha mesa e tirarei de lá os 5 livros que separei para ler e não li – voltarão para minha estante de livros, com os seus pares. Folhetos de propagandas, sacos de pipoca de cinema que são recarregáveis, mas eu jamais lembrarei de levar comigo em minhas idas ao cinema. Minha suculenta (em homenagem ao Ivan) que não vingou, morreu e ainda está lá no vaso, no meio das minhas bagunças. Carregadores de celular, notebook, cabos USB, extensão, tomadas, tudo isso, tirarei de lá. 

Será uma organização externa. Primeiro passo. Tão necessária e tão preguiçosamente adiada por meses. Além da faxina externa, que representa uma faxina interna, também fiz uma lista de objetivos para esse ano e sobre essa lista eu falo aqui no Meninas Improváveis.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Não!

Não, não sou Amélia. Não sou Hebe, não sou Gretchen, nem Glória Kalil, nem Victória Beckham. Não, não sou nenhuma outra, nem sombra de ninguém. Sou eco de muitas vozes femininas  (e masculinas também), mas o eco ilusoriamente reproduz, ele sempre ecoa de novo o novo de novo.

Não sou fruta alguma, dispenso melancias, peras e maças, já não sou a mulher objeto, sou a mulher sujeito que tem flexibilidade o bastante para mudar, não só a oração, mas a reza, a liturgia, o conto e o vigário.  Estou pronta a ser núcleo, complemento e até passiva - agente da passiva, claro.

Não, não gosto de mimimis. Não gosto de barganha. Não gosto de usar o decote como argumento. Gosto menos ainda de usar o choro como argumento. O melhor de mim encontra-se do pescoço pra cima (graças!!!), e, exatamente por isso, gosto de dar ao melhor de mim um bom suporte. Não sou conivente com o desleixo.

Não suporto homens fracos, molengas, descuidados, falastrões, canastrões. Não, não me faz falta. Não preciso de ninguém pra me completar: estou cheia até a tampa. Quero alguém que me transborde, isso sim. Mulheres rasas, carentes³²²³ e à espera de príncipes me irritam, mas torço para que encontrem, cada uma tem o tédio que merece.

As pessoas mudam. Eu mudo, tu mudas, e se regadas, florescemos. Mudanças não devem ser feitas por medo de perder ou insegurança, mudanças devem ser feitas por causa da mudança de clima, só.
Não, não serei reconhecida pelo que levei os outros a fazerem, nem pelo que fui levada a fazer por causa dos outros. Quero ser reconhecida pelo que fiz - apesar de.

Texto publicado em 22 de setembro no blog Meninas Improváveis, aqui.