sexta-feira, 22 de junho de 2012

Sobre o que não se fala

Maria Ana - 52 anos

Chorava em silêncio todas as vezes que o marido bêbado chegava em casa e levantava sua camisola e a forçava sussurrando em seu ouvido sem parar: é isso que uma esposa deve ao seu marido.

Luiza - 21 anos

Comemorou sua primeira promoção no trabalho com três amigas num louge tomando exatamente 3 tequilas e 4 chopps, talvez por isso tenha optado em ir a pé para o ponto de taxi que ficava há 3 quadras de onde estava. Só tarde demais ela vai perceber que passos a seguiam, a última frase que se lembra antes que sua cabeça fosse batida na parede de um beco foi "eu vi o jeito que você me olhava no bar, vadia, eu sei do que você gosta e vou te dar, sua puta". Ela não tinha ideia do que ele falava.

Eliza - 13 anos

Sentia dificuldade de se encaixar, era difícil ser o máximo que podia para ser aceita. Suas amigas todas já tinham beijado e transado e achavam que ela era muito careta, muito retardadinha. Tá esperando o que? perguntavam para ela toda a vez que Lucas, do último ano, falava que era ela era uma gostosa. Um dia mentiu em casa que ia estudar e foi para a casa dele. Transaram na cama da mãe de Lucas e ela só pensava enquanto segurava com as duas mãos suadas o lençol e os olhos bem apertados: "Por que eu não me sinto melhor?".

Jéssica - 5 anos

Gritou de dor quando sua mãe enfiou metade de um cenoura na 'florzinha' dela. Sua mãe não queria fazer dodói nela, ela sabia porque depois sua mãe a abraçou bem forte cantando aquela música de ninar, exatamente como fez nas tantas outras vezes só que com outros objetos, até que enfim se matasse aos 15 anos. Vomitou todas as vezes que via a cor laranja até então.

Bruna - 17 anos

Acordou cedo e foi para o seu primeiro dia de academia, marcou no calendário a data prazo para que perdesse os 27 quilos que queria. Que diziam que ela precisava para ficar bem. À noite foi na festa de aniversário da Laurinha. Era quase no fim da festa quando um cara se aproximou puxando ela pelo braço e passando a mão nela enquanto seus amigos a distância viam e riam. Tentou beijá-la mas ela se recusou. Ele então gritou com ela cuspindo: você deveria agradecer, sua gorda, quando uma ridícula como você vai beijar um cara como eu?



Daniela - 30 anos

Acordou ainda tonta, o olho inchado, sem entender onde estava. Ainda ficou deitada no tapete da sala muito tempo tentando se situar. Lembrou vagamente de enfiar a chave na portão e um cara surgir de trás da árvore e empurrá-la para dentro. Foi se lembrando. Conseguiu se levantar e foi cambaleando para o banheiro. Tirou o resto da blusa rasgada que ainda estava presa na cintura, a única peça de roupa no corpo. Se esfregou sem parar embaixo do chuveiro enquanto o sangue escorria entre as pernas.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Beleza não é relativa - na prática

Às vezes eu lia nos textos dos blogs Biscate Social Clube ou as Blogueiras Feministas entre outros, sobre como ainda hoje a mulher tem que se submeter aos ideais masculinos, que ainda hoje o corpo feminino nada mais é que um objeto de desejo para o homem e como tanto, tem que ter o 'design' que o homem quer, mas eu não queria acreditar que era bem assim mesmo (para muitos mas não para todos).


Essa discussão ganhou mais destaque recentemente por causa da Marcha das Vadias e pelos protestos, por exemplo o da Ucrânia, que as mulheres exibiam seus seios. Muitos julgam a causa desnecessária afinal, dizem, a mulher já alcançou várias coisas e "anda até pior que os homens". Como se a perda de parâmetros demonstrasse independência e maturidade sexual. E claro, não é dessa maneira que se faz um protesto (sim, porque exibir o corpo sem fins comerciais não podchi).

Acontece que entrei num embate com uma pessoa que gosto muito, inclusive, e tive o desprazer de me deparar com o posicionamento que "a mulher tem que se cuidar" porque se não ela vai ficar só com o resto e ela nem pode achar que vai encontrar algo melhor porque nenhum homem quer uma "mulher desleixada". E é assim que a vida funciona, os homens são assim, foi o que ele me disse.

Atenção, é preciso classificar esse "desleixada".

Desleixada é toda mulher que não está nos moldes do corpo de uma Panicat (apesar que eles são modestos, não precisa ser tanto, se não tiver barriga e tiver pernão, bundão e peitão está bom, não precisa ser tããão definida quando uma Panicat). Desleixada é uma mulher que não usa roupas sensuais, poxa, um decotezinho não faz mal a ninguém. Uma roupa bem legal pra te deixar como cara de mulherão, sabe? tipo 'cavala'  e não uma calça jeans e um tênis. Deus os livre das mulheres que usam allstars.

E a maioria dos homens (não todos) é assim e é por isso que a Marcha das Vadias são ainda necessárias, por isso que a mulher ainda tem que sair na rua semi-nua e dizer: esse corpo é meu e não seu, eu não fui criada para o seu prazer.

Porque isso eles deixam e é certo

Isso eles não deixam e é errado 


E não é que em pleno século XXI eu descubro que é uma ousadia a mulher acreditar que não tem a função de um frango no forno para despertar apetites e por fim ser pega e comida?


Não, eu não sou o banquete para os olhos de nenhum homem, não quero ser, eu não preciso ser, eu não tenho que ser.

A beleza tem que ser relativa sim! Nao estou defendendo que a mulher pese 200 quilos, não escove os dentes e nem penteie o cabelo e saia por aí achando que "quem quiser me amar tem que me amar como sou", é preciso se estar bem, gostar de si mesma; padrões sempre existiram, mas é preciso que não se desqualifique, que se inferiorize, eu nem falo em tolerância de "apesar de tudo, vou aceitá-la", porque isso é pouco demais, eu falo de entender que existem vários tipos de pessoas, corpos, cabelos, cores, olhos, estilos e que há beleza em cada tipo deles.

Porque esse moedor de autoestima tem que acabar:


Texto postado anteriormente em Meninas Improváveis