terça-feira, 24 de maio de 2011

Aquele que detém o objeto de desejo do outro exerce poder sobre ele.

Subjugar vontades. Nada mais castrante que passar ao outro a vontade que é sua. Esperar o tempo. Esperar o despertar. Esperar, esperar e esperar. zZzZz. A sala de espera é o lugar onde esmagam testículos. Quebrantam luxúrias. Massacram a libido. A sala de espera é um sofá pastel com música ambiente. A sala de espera te lembra que você é um passivo – haja o que houver. A espera te põe de quatro e refresca sua memória sobre quem manda. A sala de espera pega o seu verbo querer e enfia numa revista de fofoca. A espera te joga na cara que não importa o quanto você queira ser fagulha, ela é geleira. A espera é uma musiquinha chata de transferência de chamada dizendo que você precisa ter autocontrole. Ela tem.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Indique uma banda ou música - Meninas Improváveis

Não é toda semana que faço uma divulgaçãozinha do blog Meninas Improváveis, mas essa semana eu estou gostando tanto, mas tanto do tema, que tive que falar.

Essa semana cada uma indicará uma música ou banda que goste ou que talvez não goste tanto mais queira comentar algo a respeito, por que não?

E aí a Ana B. já indicou a dela e a Mari também (clique nos nomes delas e vá para as postagens).

Acho que já escolhi a minha, não sei, ainda posso mudar. Dê uma puladinha e faça você também a sua sugestão!

beijo

terça-feira, 3 de maio de 2011

No salão de beleza

Ana trabalhava como manicure há 7 anos. Essa profissão veio por herança e ela não pensou muito a respeito. Não ganhava muito, mas pelo que ouvia, ganhava mais que muitas pessoas formadas por aí e ela tinha terminado apenas o Ensino Fundamental.

Ana atendia muitas senhorinhas, como as chamava, mulheres que já haviam passado dos 70 há tempos. Cúticula fina, diabetes, cores vermelhas e cintilantes (Amor perolado ou Maça do Amor) ou clarinho (Zazá e Baila Comigo), e não adiantava ela explicar que o alguns já tinham saído de linha porque elas não acreditavam, então ela passava alguma coisa parecida e pronto. O que as senhorinhas queriam na verdade era conversar e, de quebra, fazer as unhas.

Dona Lia era uma senhora bonita em seus 76 anos de idade. Passava a cor acaju nos cabelos, e o esforço em dizer que era muito vermelho para ela era inútil. Ela era viúva – coisa que não cansava de agradecer – e tinha 3 filhos, dois homens e uma mulher, e alguns netos. Um neto, segundo ela, era um gênio e estava na faculdade de medicina agora, a despeito de ter sofrido bullyng na escola.

Marcar hora era sempre uma dificuldade, Ana tinha que berrar todas as vezes o horário que tinha marcado para Dona Lia, mas como ela era uma senhorinha doce, Ana não se irritava com a surdez. Chegava o horário Dona Lia entrava no salão cheirando a talco e se sentava na mesinha e disparava a falar:

- Sabe minha filha, quase deixei queimar o arroz agora, meu filho que me alertou que estava cheirando a queimado. Essas panelas novas não prestam, são muito fininhas, queimam tudo. E sabe? Eu não sinto muito cheiro. Meu nariz não é bom. É a idade, sabe? Apesar que eu nunca fui muito boa com cheiros e tudo. Agora, ouvir eu ouço bem, mas cheiro – muito difícil.

- A senhora ouve muito bem?

 - Que você falou, minha filha?

- A SENHORA OUVE BEM?

- Vou passar o de sempre, o roxinho. Então, como eu estava dizendo. Ouvir eu sempre ouvi muito bem, agora o nariz, não presta.