quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Simples assim


- Nãããão!!! (gargalhava)

- Tome essa – a almofada deu um rodopio no ar e acertou a cabeça da moça que gargalhava.

Tentando se esconder atrás do sofá, não sabia se ria, corria ou puxava a camiseta pra baixo, só de calcinha e camiseta, foi acometida por um pudor de repente.

 Quando ele percebeu o embaraço dela, começou a rir.

- Por que você está escondendo essa bundinha de mim?

- Não é inha!!!

Ele gargalhou.

- Como se eu já não tivesse visto muitas vezes.

- E daí? Nem por isso eu tenho que expor, ué. Já te vi várias vezes mas nem por isso você anda se balançando por aí. - Riu da comicidade da cena.

Mais que depressa ele tirou a bermuda e a cueca.

- Viu? Não tenho nenhum problema.

- Céus – pensou ela – não posso me esquecer nunca como homem é prático.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Bocejo



- Mas por que você está cansada?
- Por causa de perguntas como essa.
- Se eu ficar quieto, você fica melhor?
-Não. Pior que perguntas desnecessárias, só essa submissão brochante.


quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Modernidade



- Alô

- Oi - pequena pausa - to tentando salvar meu casamento 

- E por que você está sussurrando isso no telefone?

 - Porque eu me sinto meio culpada fazendo isso




terça-feira, 30 de novembro de 2010

Achei graça

"Se não for hoje, um dia será.
Algumas coisas, por mais impossíveis e
malucas que pareçam, a gente sabe,
bem no fundo, que foram feitas pra um dia dar certo."

Caio F. Abreu

Esses dias, me disseram: não, não, não.
Quase ri.
A vontade era dizer:
vem, vem, vem


Vem?

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

"Não te dizer o que penso já é pensar em dizer"


- Se eu te disser baixinho, assim, sussurrando bem devagarzinho todos os porquês de eu te dar minha vontade, você entende?

- Como você poderia me dar sua vontade?

- Porque minha vontade já é toda sua. Eu só tenho vontade de você.
                               

BrASAS


A Angélica é do blog Vórtice

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Nessa cidade nem tem mar e tu nao sabe escrever




A quebra de expectativa é sempre um choque. É engolir a seco uma ou duas roelas de  7 cm.

Muitas vezes a gente chega com um ar despretensioso. Colocamos as mãos nas costas, tiramos do bolso nossa melhor cara blasé e em frente ao outro, dizemos:

 - “Só o que eu queria saber era quem tinha quebrado minha garrafa, enozado minha tarrafa*”. Em outras palavras:  não quero nada, só esclarecer alguns pontos, só quero falar um pouco sobre as minhas coisas.

E de fato, nos expomos em toda a nossa fragilidade. Pegamos nossa trouxazinha de pertences e colocamos aos cuidados do outro. Não é grande coisa, mas com o tempo passamos a valorizar como se tudo dependesse dessa trouxazinha de pertences, dessa trouxazinha de personalidade, dessa trouxazinha de quem eu sou.

O problema é que o ar blasé não convence mais. E o saco de coisa nenhuma com os nossos pertences está encardido e a gente não tem mais nada, e o outro percebe isso. E quando o limite chega, quando se está farto de tudo, a verdade é posta diante dos nossos olhos:

- “Nessa cidade nem tem mar e tu não sabe escrever”.

O flagrante. Somos pegos nus. Despidos de toda máscara de auto-valorização. De que adianta isso? – o outro nos pergunta.

No ápice da crueldade que algumas verdades possuem, somos inquiridos:

- Aqui não tem mar, por que você está discutindo isso? Por que arrasta essa maldita tarrafa como se ela te adiantasse alguma coisa?

Não, aqui não há mar.

E, esclarecidos que aquele qualidade, aquela tarrafa-eu não adianta de nada, percebemos o quanto estamos perdidos:

- E tu não sabe escrever.

O que é isso senão a exigência do outro?

- O que você tem não me adianta, não nos adianta de nada. O que eu preciso você não sabe fazer. Não me despe em signos. Não (des)escreve meus pensamentos. Não me poetiza em ti.

"Nessa cidade nem tem mar e você não sabe escrever".  



* rede de pesca
A música se chama Pouco Importa do grupo Apanhador Só

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Diálogos

Sentaram em uma sorveteria para tomar milk-shake. Pediram o mesmo sabor.


A: - Não sei em que momento nos desentendemos. A gente é igual.

B: - Somos parecidas, apenas.

A: - Que seja. Mas o fato é que a gente entende uma à outra, todas essas meias-palavras não eram necessárias entre nós.

B: - Se a gente se entendesse tão bem não precisaríamos dessa conversa. Essa é a prova cabal que não entendemos uma à outra.

A: - Não acho. O que eu quero dizer é que não precisamos de máscaras. Você não precisa fingir ter um pudor que não tem. Não precisa amenizar verdades. Pode mostrar suas falhas porque eu já as conheço.

B: - Sim, nesse sentido é verdade. Eu sei que você é foda e você sabe que eu sou. Sabe, inclusive, que eu sou mais foda que você, porque tenho um equilíbrio que você ainda não conseguiu. Você ainda tem esse perfil de incertezas. Eu já quase não mais.

A: - Então, eu acho que temos uma afinidade muito grande.

B: - Essa é a parte que você se engana. Não existe isso de “não ser preciso amenizar verdades”. A verdade não é intrinsecamente boa. A verdade fora de hora é tão má quanto a mentira. O dia que você entender isso, talvez passe a existir essa tal afinidade entre nós.

A: - Mas a verdade é tudo que temos. Se a gente perder a verdade, perderemos todo parâmetro. Perderemos.

B: - Assim como a lei não garante a justiça, assim também a verdade não garante a retidão. Se há um caminho possível para o equilíbrio é a leveza. Sempre, sempre é preciso suavizar a verdade – sobretudo a inconveniente.



Terminaram de tomar o milk-shake em silêncio.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Duas coisas

Tem hora que eu só queria poder dizer
te amo
e que você soubesse que eu não espero um
eu também
porque o bom do amor é sentir
[e poder dizê-lo]


Maya Andrade

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Nada de mais

Com o pneu da minha moto furado, sem tempo para arrastá-la até uma borracharia e sem coragem de pagar um guincho, fiquei andando de moto-taxi por uma semana e meia. Ontem à noite, saindo do trabalho, fui para o ponto de moto-taxi.

Falando no celular, Geraldo*, meu conhecido há alguns anos, na época que eu ainda trabalhava em outro emprego, também, próximo ao ponto que ele trabalha.

- Oiiee! – eu disse

Geraldo falava ao celular (coisa que só percebi depois) e olhou para mim, reconheceu, deu um sorriso e uma piscadinha amistosa.

Fiquei esperando que ele terminasse a ligação. Me aproximei da moto dele.

- Oi gata! Fazendo o que da vida?

Não gosto que me chamem de gata, mas com o Geraldo soava espontâneo, não reclamei.

- Tudo bem. Trabalhando e fazendo faculdade ainda, acredita?

- Faculdade é isso mesmo, leva tempo.

Apenas sorri.

- Tem como você me levar em casa – perguntei - só que eu não estou morando mais com a minha mãe, não. Estou morando ali para frente do COC.

- Opa! Que foi, casou?

- Não, não – disse rindo.

Geraldo soltou uma gargalhada gostosa. Aliás, não era só a gargalhada que era gostosa, quantos anos se passaram desde que eu o via trabalhando do outro lado da rua? Quatro? Cinco? Geraldo só tinha melhorado, deve estar agora no auge dos seus 30 e poucos anos.

- Vamos gata?

- Vamos.

Subi na moto, fiquei super tentada a dizer que me agarraria iria segurar nele, mas resisti.

Fomos conversando durante o trajeto. Ele é engraçadíssimo, uma voz linda, riso solto, fiquei pensando que era uma sorte mesmo o capacete não deixar a gente falar soprando no ouvido do outro, seria desleal.

Perguntei para o Geraldo se ele conhecia um borracheiro perto da minha casa e expliquei-lhe a situação. Ele me explicou direitinho como fazia para chegar em um próximo. Agradeci.

Parou em frente da minha casa. Desci da moto, perguntei o preço, ele me disse e eu paguei.

- Brigadão, viu?

- Ô gata, quer que eu veja isso pra você? Eu já tiro essa roda e levo pra você e depois te trago, quer?

Meus olhos brilharam.

- Poxa, vai dar um trabalhão.

- Nenhum homem fez isso pra você?

- Ah.... é que...

- Tá, deixa que eu levo.

Geraldo entrou na garagem e já foi pedindo as ferramentas. Ele se abaixou e acabou aparecendo o elástico da cueca boxer – preta.

Meu Deus, pensei comigo mesma, não é que o fetiche do mecânico é verdadeiro? Geraldo estava ali fazendo força, se sujando de graxa e eu salivando observando.

- Muito bom – deixei escapar.

- Que foi?

Pega em flagrante, respondi que era muito bom o fato de ele conseguir soltar a roda.

Tá, foi idiota, mas foi o melhor que consegui pensar na hora.

Ele usava um relógio bonito, masculino, imponente. E só Deus sabe o meu fraco com homens de relógio.

Finalmente (pena) Geraldo conseguiu soltar a roda.

- Pronto, onde eu posso lavar as mãos?

Geraldo tem um sotaque bonito, faz todas as concordâncias, ele é graduado em Filosofia, mas não quer dar aula, trabalha como moto-taxi porque rende uma boa grana, bem mais que se desse aula. Passei em frente ao sofá, pensei momentaneamente em jogá-lo lá, desisti, fui com ele para o tanque.

- Pegue o detergente na pia pra mim?

- Claro.

Peguei.

- Pode jogar.

Despejei um pouco de detergente nas mãos de Geraldo, ele começou a esfregar uma mão na outra. Fiquei olhando e por um momento pensei em ajudá-lo a lavar aos mãos, numa espécie de cena improvisada e adaptada de Ghost – claro, só faltaria o vaso de barro.

- Mais...

- Oi?

- Coloca mais detergente, por favor.

- Ah, tá.

Quando acabou de lavar as mãos, Geraldo jogou água no tanque para limpá-lo, para que não ficasse espuma suja. Quantos homens fazem isso? A maioria que eu conheço lava o tênis e deixa a espuma lá, encardindo o tanque.

Geraldo é pra casar.

- Se você quiser, eu já levo lá e te trago agora mesmo.

- Não, você não prefere amanhã? Quando estiver passando perto de um borracheiro, você conserta.

- Tá bom. Toma meu telefone.

Virei o verso do cartão, não, não tinha nada escrito. Deu um toque no meu celular para que ficasse marcado.

- Amanhã eu te trago o pneu, tá?

- Tá, muito, muito obrigada.

Antes das oito da manhã, Geraldo me ligou.

Esse é pra casar².

                            

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Batendo portas

Escovava os dentes olhando pra pia. Sentia as lágrimas escorrendo pelo rosto. Como consegue sentir as lágrimas mesmo com o rosto meio molhado? Fez bochecho e cuspiu. Olhou no espelho. Os olhos vermelhos representavam o adiamento de uma decisão.

Batons, calcinhas, chinelos e pulseiras espalhados pelo chão do banheiro. Enxugou o rosto. Abaixou a tampa do vaso sanitário e se sentou.

Soluçava copiosamente – estava a beira do desespero.

Depois de um tempo, muito tempo, foi para a sala. Saiu chutando todas as almofadas pelo chão. Ligou o rádio e deixou a música preencher o apartamento.

Por que doía tanto? Por que esse vazio que sentia e que nem a música era capaz de preencher? Porque essa imensa falta de si mesma quando a falta era pra ser de uma outra coisa?

Deitou-se no chão do apartamento, olhava as – infantis – estrelinhas fluorescentes coladas no teto, tinha até alguns cavalos-marinhos espalhadas entre elas. Resquício de algo que já não era.

Afundou-se entre almofadas e tristeza.

Ao longe ouviu a campainha tocando insistentemente. Se levantou com muita dificuldade e foi abrir a porta.

- Oi.

_ Nunca mais quero te ver, vá embora e não volte mais.

Bateu a porta para o seu futuro idealizado.


**    **                          
                        
Ouvindo If you don't wanna love me - James Morrison  quando escrevi

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Eu que freei, idiota!!!!

O trânsito é sempre uma coisa que rende conversa. Todos os dias eu faço um tour pela cidade para ir de um emprego ao outro e à faculdade depois. E nesse vai e vem sempre há uma coisa recorrente no trânsito: a minha irritação.

Não, não pense que sou estressada, uma irritadinha descontrolada, não. Eu tenho melhorado. Mas acontece que existem pessoas com uma única e exclusiva função: te deixar fula(o) da vida.

Um movimento que eu quero começar, inclusive fazendo abaixo-assinado e tudo (pode assinar via comentário) é o movimento Eu quero luz de freio na frente do carro. Sim, leitores e leitoras. Luz de freio na frente já! Por quê? Porque simplesmente as pessoas têm que ter algo bem claro na mentes delas:

- NÃO DEU TEMPO, IDIOTA. EU QUE FREEI!!!

Sim, o cara fica parado na esquina, naquele vou-não-vou e você, motorista esperto, percebendo que o cara vai fazer merda uma imprudência, já dá uma desacelerada. E o cara na indecisão. Quando você finalmente acha que sim, ele vai esperar, ele resolve atravessar na sua frente. Você então freia. O cara passa e ainda comenta com a esposa, apavorada (cujo estômago está no banco de trás): Viu, Môr? Não disse que dava tempo?

- NÃO, NÃO DEU TEMPO, IDIOTA. EU QUE FREEI!!!

Mas o motorista displicente, com aquela barriguinha infame, segue o caminho achando que é muito esperto em sacar que dava tempo de ele passar com o seu Diplomata 1978. Se tivesse uma luz de freio dianteira essas coisas não aconteceriam.

Depois de se irritar com esses motoristas-ejaculação-precoce (quando você menos imagina, ele já foi) você continua seu caminho.
Você vai então para uma avenida que ao menos tem semáforos, então a coisa está mais garantida. Essa avenida é bem movimentada, e muitos “motoqueiros” trafegam por ela. O interessante é que ela tem onda verde (se você fica em determinada velocidade os semáforos estarão sempre verdes). A velocidade é em torno de 45km/h. Os motoqueiros devem saber disso, imagino. Mas ignoram. Preferem acelerar e correr e... frear. Eles acabam passando à frente dos carros porque estes preferem ir mais devagar para tentar pegar a onda verde. O que ocorre então é um grupo (bolo) de motos e o grupo de carros atrás.

Aí acontece o fenômeno interessante. Uma moto para na frente. As outras vão parando um pouquinho mais atrás, mas ao lado. Finalmente eles ficam naquela posição inicial de jogo de bilhar, o triângulo sabe? Uso a imagem do jogo de bilhar porque é uma coisa mais gordinha, não é aquele triângulo com a ponta fina, porque mais ou menos eles se organizam lado a lado.

Tá.

Daí o sinal fica verde e: bruuuuuuuuuuuuuuuuuum! Todos partem em disparada. Eu fico pensando “aonde é que eles vão com tanta pressa?”. Vão até no semáforo da frente ficar parados enquanto todos os carros vão chegando depois e pega o semáforo verde. É uma cena bizarra. Alguém deveria avisá-los que eles não são os espermatozóides disputando entre si pelo óvulo perdido. Porque é justamente essa a imagem que me vem toda vez que eu vejo o bando de machos (grande maioria) fazendo essa corrida maluca.

Finalmente você sai da avenida e volta para uma rua tranquila e... estreita. Com carros estacionados dos dois lados, afinal, facilitar pra que? E então eu, que estou de moto (mas não participo da corrida maluca) tenho que ficar atrás de um carro, porque não há espaço para ultrapassá-lo por lado algum. O deserto do Atacama é aqui na minha cidade, entendem? Então fico eu lá, fritando, fedendo, grudando poluição/queimada de cana/poeira, sentindo o calor do Sol passar por minha calça jeans e queimar minhas pernas – pacientemente (mudei, lembram?) – enquanto o motorista do carro na minha frente não sabe o que é engatar a terceira.

- Aaaaaaaaaaaaaaaa.

Nesse momento eu já sinto aquela película de poeira sobre meu corpo. Minha franja já está mais oleosa que pastel de feira à uma hora. Minhas costas já estão doendo.

E o motorista?

Atrás do carro de vidro com insulfilme eu consigo vê-lo balançando a cabeça e curtindo a música na temperatura amena de um ar-condicionado.





Obs.: Eu mudei porque toda vez que acontece essas coisas eu mentalizo:

sábado, 25 de setembro de 2010

Votar em Tiririca? Só se tiver titica na cabeça

Li uma notícia na Folha de São Paulo de hoje e fiquei ainda mais indignada com a postura que o Tiririca tem nessas eleições.

Nem um circo respeitável aceitaria o tal palhaço em sua trupe. Votar nele não é um protesto é falta de consciência politíca mesmo. E é sobre ele que eu falo, com mais propriedade e tempo, no blog Sob Nossa Lente.

Clique aqui e vá para a minha postagem, o título é: Titica? Ah...Tiririca.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Guarda, Fidel e Chico

Rotatória da cidade, batida rotineira feita pelos guardas de trânsito. Um policial, apelidado muito carinhosamente de marronzinho (não sei se em todos os lugares eles são chamados assim), manda eu encostar a moto.

Paro.

- Documento da moto e CNH.
- É uma scooter.
 - O que foi?
- O senhor disse  ‘moto’ e... bem, é minha e tudo, e eu gosto muito dela e tal, mas dizer que é uma moto, moooooto não é.
- Os documentos, por favor.

Entrego o documento da Biz e um canhotinho escrito: Retirada de CNH depois das 13h00 do dia seguinte.

-  A senhora  não tem carteira de motorista??
 - Claro que tenho, mas ó!
- Então me dê!
- Veja, é o seguinte, eu perdi minha CNH e fiz outra, como o senhor pode ler, o senhor pode, não é? Então, como o senhor pode ler, eu vou pega-la amanhã.
- Eu terei que apreender a moto.
- De jeito algum!!! A Fidel ninguém leva.
- Quem é Fidel???
- A moto.
-  Mas a senhora não disse que não era moto?
 - Força de expressão, mas então, a Fidel ninguém leva.
- Fidel de Fidel Castro?
- Não, Fidel de fidelidade mesmo.
 - A senhora está me gozando?
-  Gozando estaria o senhor ao achar que eu chamaria minha Biz de Fidel Castro!

 Deixo cair um dos fones  de ouvido.

 - Mas o que é isso? A senhora estava ouvindo música???
- Nossa, quando ouço música nem ligo dos outros me apertarem no corredor, fico até esperando  motorista de caminhão manobrar, se for preciso.
 - Eu terei que multá-la.
 - Por que?
- Porque não pode ouvir música!
- Mas no carro não pode?
- Pode.
- Qual a diferença, então?
- A diferença é que a senhora tem uma moto e não um carro.
- Aff, isso é justificativa?
 - Está boa pra mim. O que você estava ouvindo?
- My father’s gun do Elton John
-  O que significa?
- A arma do meu pai, a grosso modo.
- Mas o que é isso? É algum rap de morro? Eu vou autuar a senhora!!!
- É o Elton John! Dos Beatles, lembra?
- Ahh... Aquele do óclinho redondo? Uma pena ter morrido...
- Não!!! Esse era o John Lennon!
- ...
-...
- Documentos?
- Mas o senhor está com eles na mão!
- Ah sim...terei que apreender a moto!
- Olha, vou explicar pro senhor, tá? Negócio é o seguinte. Semana passada fui renovar os documentos da moto, daí tinha perdido a CNH e tive que tirar outra, mas não quiseram aceitar meu RG porque a foto era de criança, e tive que tirar um RG novo, bom, a questão é que deixei mais de 500 reais no Poupatempo e eu não vou ser multada de jeito algum!!!
 - A senhora estava dirigindo com o documento vencido e sem CNH, apenas com o RG?
- Não, estava sem o RG, porque não encontrava depois da mudança.
- Mas ora veja! Que mudança?
- Mudança, mudei da casa da minha mãe. Estou morando com umas amigas agora.
- República?
- Não senhor, elas não gostam que chame de república.
- Suas amigas, são bonitas?
- Sim senhor, uma mais que a outra.
- Hum...
- Pois é.
- O que você está ouvindo agora?
- Com açúcar, com afeto, do Chico
- Jura???
- Anham, quer  ouvir?
 - Posso?

Coloca o outro fone no ouvido, o que tinha caído, então ficamos nós dois, cabeças quase  colodas, dividindo o fone
- .... Fiz seu doce predileto pra você parar em casa, qual o quê... ele cantarolou
- Meu pai tocava essa música toda vez que pegava o violão – continuou o guarda, com os olhos marejados. 

Depois de  alguns segundos: 

- Pode ir, mas amanhã você busca essa CNH, entendido?
- Sim, senhor, sem falta
- Promete?
- Prometo.
- Posso ouvir mais uma vez?
- Pode.

Passei os dois fones para ele, esperei ele terminar a música, dei-lhe um tapinha nas costas e segui em frente com a minha Fidel.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Em Cena: Ars em Palavras

Quem me conhece sabe que uma das minhas grandes paixões é cinema. Então foi com muito prazer e empolgação que eu aceitei o convite do Felipe para participar do Blog Ars em Palavras. A intenção do blog é falar sobre artes em geral, mas sobretudo o cinema.

Como aqui no Baú eu já falo sobre literatura e etc., lá no Ars em reservarei meu lugarzinho para só falar de filmes.

Minha postagem de hoje é sobre o filme Manderlay. Se vocês puderem dar um pulinho lá, será gostosinho. Aceito e imploro (rs) sugestões de filmes!

Para ir para lá clique aqui.

beijos,

Dai



 http://arsempalavras.blogspot.com/2010/09/manderlay-2005-diretor-lars-von-trier.html

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Ao aniversariante (post "pessoal")

É até irônico dizer que me faltam as palavras, não é? Sempre tão pronta a falar, dar opinião, rabiscar alguns versos. Mas agora faltam, sim. Falar de carinho sempre me dá medo, o receio de cair no clichê, da usar e abusar das frases feitas, medo de tocar, ao fundo, Reginaldo Rossi.

Queria, ao menos, te abraçar. O que as palavras perdem em burocracia os gestos ganham em eficiência. Esse dia é seu, e por ser seu é meu também, você sabe que me aposso de você. Mais um tempo e te trago pra minha casa baseada no uso capião. Que me impeçam! Tenho todos os pronomes possessivos ao meu lado!

Te parabenizo hoje, não porque é a data do seu nascimento, isso é só um pretexto. O seu aniversário é a tua foto na minha memória me lembrando que hoje é um bom dia para eu dizer o quanto você é único. Não só por aquilo que você é. Mas porque tudo o que você faz condiz com o que você é.

Isso é para poucos.

beijo de água gelada,

love

Professor ganha mal?

Hoje lá no Meninas Improváveis eu falo um pouco sobre isso: será que professor ganha mal? Ele tem que aguentar tudo? Seria bacana, mesmo, ter outros pontos de vista. Passem por lá e opinem!


"Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. "
Paulo Freire

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Blog: Coisas e Coisas

Esses dias eu estava pensando em como falar sobre sexo é um coisa complicada. Primeiro, porque acho que é uma coisa que não foi feita para falar e sim para praticar, ooops, quero dizer que é um tema muito mais para área da pragmática que para a área da semântica. Sim, porque meu interesse é sempre sobre textos (cof cof cof).

O segundo motivo porque acho que falar sobre sexo é complicado é o equilibrio, não na hora de fazer, na hora de falar mesmo. Ou se cai na vulgaridade ou se cai no puritanismo, posturas essas que não acrescentam. Como, em geral, o excesso não acrescenta em nada.

Por isso eu achei muito interessante a proposta da Alinne do blog "Coisas e coisas". Ela fez uma sequência de textos calientes lá, e como todos os textos que ela faz, estes também são de muita qualidade. São textos de dar água na boca, se é que vocês me entendem. Ela já está no "capítulo oito", mas você consegue ler apenas um e entender, caso o tempo não dê para ler todos, mas eu sugiro a leitura da 'série'. Só lembrando que este gênero de texto não é novo na literatura e a Alinne, na minha opinião, acertou  a mão ao escrevê-los. Para ler é só clicar aqui que você conseguirá ler todos os textos agrupados.

Eu falo também sobre o assunto no blog Sob [nossa] lente, mas no caso, minha abordagem é sobre pessoas que escorregam ao contar suas intimidades. Para ir para o blog e ler, clique aqui.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Colhendo

A gente não se liberta de um hábito atirando-o pela janela: é preciso fazê-lo descer a escada, degrau por degrau.
Mark Twain

Fico pensando como não notamos como construímos nossa vida passo a passo. Às vezes penso que é por causa da nossa educação, que separa tudo em matérias, frentes. A matemática é uma coisa, a física outra, redação outra e literatura outra coisa muito mais diferente ainda. Nos ensinam a ‘regra de três’ e noção de dimensão se perde, e mais, não conseguimos enxergar como aquela matéria afeta nossa vida.

E continuamos com essa fragmentação na nossa vida extra-escolar. Nossa vida cai numa rotina que faz com que muitas vezes não percebamos que as coisas têm uma consequência: ação e reação, lembra? Não temos aquela impressão, como nos livros, que aquele cinco minutos que saímos atrasados de casa pode ter mudado a história da nossa vida. Que aquele texto que deixou de ler será justamente o que cairá na prova. Que sua mãe ter dado um fora naquele dentucinho vesgo foi o motivo de você ter o pai que tem, até de existir, talvez. Vai saber. Mas a rotina, se não bastasse todos os males que ela já traz (alguns benefícios também, a rotina também é necessária), ela ainda gera isso: a sensação que suas atitudes, por não serem uma granada explodindo, não vão gerar nada. Que por não agirmos ativamente não existe ação. Mas a questão é que até na passividade agimos e é na desatenção da passividade que talvez as coisas mais ruins acontecem. Na passividade somos fantoches.

Hoje eu faço um balanço de algumas atitudes que tomei e vejo que mesmo quando “não tomei” coisas foram decididas, e hoje sofro – literalmente – a consequência.

“O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído” – nem sempre, o caminhão da responsabilidade pode te atropelar.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Imersão




Saiu do banho enrolada na toalha, com uma toalha de rosto enxugava os cabelos encaracolados que caiam pelas costas. Pegou o controle do som e apertou play, Assassin ecoou pelo apartamento. Adorava o John Mayer. Assim que a introdução tocou, ela parou de enxugar os cabelos. Com a toalha apertada entre as duas mãos balançava a cabeça no ritmo da música, lentamente, lascivamente. Sentiu o chão ficar em outro plano enquanto o quarto rodava. Sentiu a toalha escorregar pelo seu corpo e repousar sobre seus pés.

A música invadia cada cômodo, objeto da casa, estilhaçava janelas, secava seu cabelo.

Deixou-se cair na cama e ficou escutando os últimos acordes.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Caixa de Saída [1]

Amor,

Tenho algumas dúvidas, sabe? Não que não acredite que não possa ser feliz com você ou que duvide de nós, não. Se há alguém em quem eu acredito que um relacionamento conjugal possa dar certo, esse alguém é você. O que eu desconfio é da instituição, da definição. Do amor-acordado que estabelece as obrigações de ambas as partes independentes do que as partes pensem. Não acredito em necessidades pré-estabelecidas. Eu não preciso daquela cama king-size, sabia? Eu fico muito feliz com aquele sofá-cama estampado que sua avó te deu. Quem casa quer casa, mas nem caso e tampouco quero casa. Quero ser leal. E a lealdade está acima da felicidade, tanto minha quanto tua. Veja, eu até acho bonito quando vejo aquelas crianças em seus carrinhos alugados no shopping, mas eu não queria nem o shopping nem o carrinho alugado. O que essas vitrines têm a ver com crianças, meu amor? Nada, a não ser com a Maísa, mas acho que ela não vale.

Tenho idade pra casar, é o que todos dizem. E Deus sabe que não faço coro com Nelson Rodrigues quando ele diz que toda unânimidade é burra, não, acredito mesmo que deve ser uma espécie de sabedoria popular e que essa deve ser a idade na qual meus ossos e meus neurônios devem se adaptar melhor ao ritual sagrado que é o casamento, a rotina linda. Um compartilhamento, doação, não é isso? Claro que mulher faz um pouquinho a mais e trabalha fora, cuida das crianças, faz janta mesmo quando não tem fome, ora, são assim que as coisas são mesmo, acho justo inclusive, fomos nós, as mulheres, que demos a Adão o fruto proibido. E só foi quando pensei nisso, meu amor, que pude entender a maravilhosa lógica da igreja em não permitir relações homossexuais, afinal, como seriam distribuídas as tarefas diárias? É sempre para nos preservar, sempre.

E não acho que a rotina seja uma coisa ruim, de forma alguma. Quantas vezes vejo o desafio que é inventar pratos novos e saborosos usando a mesma batata e carne moída que seu pai compra toda vez? É claro que quando você sugere - porque EU sei que não são críticas - que sua mãe faça outra coisa porque você não comerá novamente esse gororoba que parece comida do cachorro (não a do seu, evidentemente, que ele só come carne picadinha misturada na ração), você está sendo magnânimo dando a ela a oportunidade de melhorar.

Sabe, e eu gosto tanto, mas tanto, da sua individualidade. Você não deixa de ser quem você é só porque estamos noivos, não, sai todos os fins de semana com seus amigos, fica até tarde no sábado dando a eles toda a atenção e como eu sou sortuda quando, no domingo, você fica até as 15h30 lá em casa (e tem que sair correndo para ver o jogo das 16h, mesmo assim, mesmo tendo que correr para ver o jogo, você nunca abriu mão de ficar comigo) e me manda um SMS dizendo que me ama, mesmo cansado depois do pagode do domingo à noite. Claro, você diz que não é para eu sair com as minhas amigas (as que eu tinha, porque elas sumiram um pouco) mas é sempre pensando em mim, porque o mundo está violento: “assiste o Datena pra você ver” é o que você me diz. E por dentro meu coração saltita por ter alguém que cuida assim de mim.

E é por pensar em tudo isso, de ver o quanto você é uma pessoa generosa, que eu não posso aceitar seu pedido de casamento: você é muito mais do que sonhei, você é bom demais pra mim.

Com amor,

Seu Cheirinho 

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Sob [nossa] lente

Tem certas frases feitas, conceitos estabelecidos e comportamentos que me deixam ‘encafifada’. Muitas vezes eu mesma os repito por aí, sem maiores consequências, até que eu mesma me questione a respeito do discurso. Quantas vezes me pego exclamando: nada a ver isso!

E não dificilmente encontro outras pessoas que também questionam: questionam teorias, atos, a si e a outros. E desse exercício de reflexão resultou um blog. O nome dele é Sob [nossa] lente, porque não é apenas nossa visão, é nossa visão já filtrada e projetada de outras visões.

O nosso discurso é diálogo de outros.

Meu post inaugural é sobre o ‘sacrificar-se’ por uma relação. Será que isso é mesmo assim?

Clique aqui e visite o blog.



Beijos,

Dai

quinta-feira, 22 de julho de 2010

De Blog em Blog - Seguir

 A ovelha que baliu ou Eu sou uma ovelha e meu nome é Sucks
Tem gente que gosta de seguir, segue normas, regras, tendências, placas, a/o mulher/homem que corneia, blogs e twitts. Tem gente que segue e ponto. Tem gente que é UM SEGUIDOR (qualquer semelhança com alguma propaganda é mero acaso).

Veja bem, não acho que ser um seguidor seja um problema, afinal, não é qualquer reles mortal que será O seguido. Eu, por exemplo, sou seguidora, também. O patamar de Seguido é para alguns poucos que não seguem a trilha, mas abrem a trilha em meio a mata fechada da ignorância e previsibilidade. Seguidos é uma espécie que se camufla muito bem e é apenas com atenção que você o distingue. Quero dizer, às vezes. Porque você não precisa de maior atenção para distingui-lo entre uma espécie detestável: os seguidores-ovelha.

Os seguidores-ovelha são facilmente detectados, é só perguntar a eles algo sobre política que usarão como pausa de frase a expressão “a culpa é do capitalismo selvagem”, talvez com algumas pequenas variações como: “a culpa é do imperialismo selvagem” e, dependendo da região, terminarão com “a culpa é do capitalismo selvagem de méérrrda”, ou “a culpa é do capitalismo selvagem, daí”, ou “a culpa é do capitalismo selvagem, porra” e por aí vai.

Uma distição entre essa espécie é o gosto musical, eles se dividem em três grupos igualmente chatos que não aceitam influência [musical] de outro grupo. As três distinções são:

  - Seguidor-ovelha: ouço Belchior; 
 - Seguidor-ovelha: ouço Belo (e vez em quando eles pintam a lãzinha do topo da cabeça para se identificarem mais com o estilo ‘musical’);
 - Seguidor-ovelha: ouço sertenejo-universitário.

O nocividade destes três grupos é que eles não aceitam outro estilo de música, considerando uma ovelha desgarrada quem ouça outra coisa.

Os seguidores-ovelha sempre existiram, dizem que foi fundado por Adão quando comeu a fruta e disse todo afetado: a culpa é dessa Eva que o Senhor me deu, incompetente!

Mas agora a coisa tem se agravado, se não bastasse eles se reunirem em rituais fechados, cantando respectivamente: "Como nossos pais", "Reinventar" e "Chora, me liga", agora eles criam blogs. A parte boa é que eles dificilmente falam de músicas, política e qualquer coisa assim, na verdade, eles não dão muito a opinião sobre nada, quer dizer, falam sobre tudo mas não dão opinião sobre quase nada. Quando criam blog eles se reúnem novamente sob o bloco único “Seguidores-ovelha” e adotam o mesmo cunho para textos: o autoajuda – eu.sofro.mas.te.ajudo.

São textos que contam bastante sobre a vida 'particular' deles, como eles andam sofrendo com o descaso da pessoa amada, como a confiança deles foi traída por alguém amado ou como eles têm confiança em ainda encontrar a pessoa amada (e detalhe, acreditam em príncipe/princesa). Às vezes se arriscam em certos amontoado de versos a que denominam poesia, você facilmente reconhece pela recorrência de rimas com –ar e –er.

A situação só não virou calamidade pública porque são bichos inofensivos. Dado a previsibilidade característica, já foram mapeados os comportamentos e possíveis formas de abordagens. Um método simples de identificar é que esses seguidores-ovelha não leem textos com mais de 15 linhas. Outra forma para se prevenir desses seres é criar um e-mail e passar para a pessoa, se ela lotar sua caixa de e-mails com títulos similares a: "Para começar bem seu dia", "Assista e veja a vida bela", "Olhe as estrelas e agradeça"..., cuidado, você acabou de ser abordada por um seguidor-ovelha.


Com sorte (ou não) você talvez leia sobre o tema nestes blogs:
Abra o Bico
Geny Fiorella
Quero ser vermelho!!
No Lipstick
Brunacelia.com
Pensamentos diretos
Lugar de Maria
Carolina Motta - Marketing & Design
Vou de Scarpin