segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Com gotinhas de chocolate ou uvas cristalizadas?

Se eu tivesse ouvido mamãe e feito aquele curso de panificação no Industrial, hoje eu estaria ganhando uma grana, mesmo fora da época do Natal, isso porque tem governador aí com o coração maior que o peito, de tanto que gosta de fazer caridade.


O duro é que pra sair do meio da lama com uvas cristalizadas, ele nem poderá pedir ajuda para os universitários, porque esses também mostraram que estão aprendendo o be-a-bá direitinho e também querem seu próprio dinheiro pra comprar panetones.

Bom, o jeito será o dito governador colocar um pezinho de arruda atrás da orelha... pensando bem, arruda não, porque arruda já não está fazendo milagre, o melhor será uma espada de São Jorge, que é pro santo guerreito dar um jeito no dragão de impeachment que a OAB quer alimentar.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

E nas quinas burocráticas....

Como assim ninguém sabe por quê teve o apagão? Isso é...




...Oi?... Alguém? ...Será que salvou minha postagem? Nossa..alguém pega uma vela, por favor?Aiii droga! Bati o pé...







...

Mi maior.

Tirou lentamente o violão da capa, metodicamente, sem pressa. Abriu o zíper como quem despe uma virgem. Colocou o instrumento sobre o colo, abaixou a cabeça levemente inclinada e começou a afiná-lo.

Sentada em um monte de almofadas ela o olhava enquanto ele ritualmente afinava o violão. Reparou em seu jeans surrado. Ao lado dele uma pequena fonte escorria água sem sossego. Seus olhares se encontram. Pronto, o violão estava afinado.

Ele começou a tocar enquanto ela fazia o que mais gostava: admirá-lo. Dedilhou alguns sambas, tocou algumas bossas, e depois… sem que soubesse o porquê, ele tocou um rock antigo, segurava firmemente o braço do violão enquanto com o próprio braço o abraçava pelo meio, na altura das cordas, não com o ombro apoiado no instrumento, mas com o ombro atrás dele, e essa cena a inflamou.

A água borbulhava na fonte.

A cada batida que ele dava no violão era como um toque em seu corpo.  A velocidade impressa por ele na música imprimia em seus sentidos, o desejo.

Levantou-se de onde estava e foi até ele, começou a afagar-lhe os cabelos, passar os dedos em sua nuca, parou com as mãos no ombro por alguns instantes, abaixou-se um pouco e deslizou as mãos pelas costas. O sentiu arrepiar.

Não parou a música, que era a maneira dele retribuir os carinhos. No entanto, a música parecia cada vez mais frenética, e já não sabia se o que ele tinha no colo era o corpo do violão ou o seu próprio.

Os corpos tremiam, as cordas vibravam e o som assonante ecoava pela casa.

Deu  a última nota.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Nem pra substituir.

Assisti o filme Substituto, lançado recentemente, pelo menos aqui no interior de São Paulo. Enfim, a pipoca valeu a pena. Estava com duas amigas e uma delas ao terminar o filme me disse: “nossa, só uma hora e meia de filme” ao que eu: “e foi muito”.


Acho que essa foi a frase mais exemplificadora do filme.
O filme é mais uma daquelas amostras de uma ideia boa que dá errado. A sinopse em si já era um fiasco, quando li disse: a sinopse é fraca, vamos ver se o filme é melhor.

Não foi.

As primeiras cenas do filme mostram a progressão do tempo e a evolução que se dá na robótica e por fim, a inserção uma vez por todas dos robôs na vida humana. Talvez se quisesse questionar alguma coisa, mas o fato é que o filme nem se quer chegou a levantar a questão.

O filme é uma mistura de Eu, Robô com Matrix e no final uma cena que estava mais para Ensaio sobre a cegueira do que qualquer outra coisa.
A atuação do Bruce Willis é… Armagedon?

Se o filme é insosso a trilha sonora então… é inexistente, como disse minha amiga, “a única hora que tem música é a musiquinha do elevador” e nos créditos. A música dos créditos proporciona mais emoção que uma cena ápice de perseguição da bandida pelo mocinho.

Nestas horas que vemos como uma boa trilha faz falta, talvez com o embalo certo o filme pegasse na retranca. Acho que nem assim.


Ainda bem que era segunda-feira de promoção.

Modelo Inep de Fazer.

No dia 29 de julho, à meia noite, o Inep liberou 40 questões-modelo para o novo Enem. Foram apresentadas para cada grande área diretrizes que norteariam a elaboração da prova. Aliás, coisa bonita de se ler. Em Linguagens, Códigos e suas tecnologias o que se tem é praticamente um tratado em variação linguística, os diferentes tipos de gêneros do discurso, e toda uma confabulação sobre respeitar o conhecimento que o aluno possui e etc. De fato, era de se encher os olhos. Sem contar as outras áreas que seguiam o mesmo padrão.


No entanto, na prática, o que foi apresentado foi mais uma vez o famigerado jeitinho brasileiro. Eis que às portas do Enem surge a suspeita de fraude, chamada suspeita somente por puro pudor burocrático, porque era mais que fato - para desespero de milhares de alunos. O excelentíssimo ministro da Educação, com a maior tranquilidade, disse que este era o momento para os alunos aproveitarem para estudarem mais, obviamente ele não havia se inscrito para a prova.

E se não bastasse os panos quentes metodicamente colocados sobre o vazamento da prova, aliás, nome apropriadíssimo uma vez que; se já haviam reservas da parte de várias universidades federais em aceitar o enem como critério decisivo para o ingresso dos alunos, este vazamento só fez com que a confiança, que já era mínima, escorresse pelo cano uma vez por todas. Bem, e se tudo isso já não fosse suficiente, houve por parte das autoridades uma certa complacência, uma “minimilização” do que houve.

É claro que só a venda do gabarito da prova já é um absurdo, afinal de contas, o Enem é o “termômetro” da educação brasileira, é dependendo dos resultados obtidos nele que as escolas conseguem verba. Porém, a questão é que o Inep é um órgão que tem que se manter acima de qualquer suspeita, afinal é ele que coordena, aqui no Brasil, o exame de ciências do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), um programa internacional de avaliação comparada, que tem por objetivo produzir indicadores dos sistemas educacionais no mundo todo. Se a integridade do Inep passar a ser questionada, a posição do Brasil no ranking também pode ser. E o problema não é só posição, mas a integridade da imagem do país. Exagero? E como dizer que não é assim.

O Inep se saiu muito bem em suas questões-modelo, mas como modelo...

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O Besouro e o dragão.

Não pode-se tirar um mérito do filme Besouro: o de ser uma coisa difícil de se classificar. É um filme que tem todas as características que um filme bom tem:








Trilha: ok

Efeitos especiais: ok

Enredo: ok

Atores: ok (mas leia-se um ok trêmulo)





Enfim, o que mais quiser se acrescentar, no entanto:





Todas as características juntas? N/A





A trilha sonora, mas ainda me questiono sobre isso, foi estranha. Tá, foi Gil, tá… foi Nação Zumbi, mas senti um Q de rock que estava muito ao gosto norte-americano, que para o filme, tão brasileiro, não caiu bem.

As coisas em si, não foram bem casadas. Os efeitos especiais, tão aclamados, pesaram, caíram no excesso. Enfim, começarei do início. A história do Besouro merece (e já o é) um mito e foi para essa construção que o filme se propôs. O resgate do candomblé nas figuras dos orixás, se entrelaçou com o enredo de uma maneira maravilhosa. A cena mais bonita do filme é quando o Besouro olha para um sapo e vira o próprio sapo, faz um mergulho-iniciação, em uma construção perfeita da significado, que se dá pela imagem, recurso máximo do cinema.

Foi lindo.

No entanto, o voo do Besouro, uma metáfora de tanta coisa, podia ter sido trabalhada de outra forma. Senti falta de mais rodas de capoeiras, de mais passos, da dança e da luta, se era pra explorar alguma coisa que se explorasse àquilo que a Capoeira tem a oferecer e não O tigre e o Dragão, animais que nem existem no Brasil.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Ventania

Os galhos vergavam sob o vento. O breu se instalara assim que os ventos chegaram. A ventania percorria toda a propriedade, com força, agressividade e pressa. O vento corria como se estivesse atrasado. Talvez estivesse.

Os animais ofegantes, se amuavam, se esprimiam uns contra os outros. Nos olhos deles: o medo.

Os ventos uivavam como lobos nas estepes e a sensação de  presságio era a mesma. Não se via nada, os troncos das árvores eram apenas silhuetas trêmulas. Apavoradas.

O vento castigava toda a vegetação com açoites. A mata verde-musgo empalidecia diante do sopro titânico, não se ouvia nem um canto de pássaro, nem mesmo o de alguma coruja agourenta.

O lampião, há muito apagado, balançava de uma lado a outro, como o badalo de algum sino de uma cadetral barroca.

Pela fresta da porta incidia uma luz tímida, amarelada, que parecia ter sido curtida pelo tempo, uma luz velha como uma papel surrado no assoalho da varanda.

Uma cadeira de vime, tão antiga quanto o próprio casarão, balançava embalando alguém que não se via, virada para a plantação parecia deixar aquele que estava sobre ela a par do estrago que era feito pelos ventos.

De dentro da casa ouvia-se o estalo da lenha trepidando no fogão, além disso… mais nada.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

33 graus.

Que horas eram? Olhou a tempo de ver Cuauhtlehuanitl. Arrastava-se num infinito de areia, simetricamente sem forma, o rosto salpicado de areia fina. Confundia suas formas… a areia era uma extensão de si mesmo.

O Sol ardia em sua pele. Por que parara ali? Como havia se perdido dos outros? Agora tudo não era mais que uma névoa, algo muito difuso, uma linha tênue entre a memória e a realidade.

Quando tivera a ideia brilhante de fazer essa viagem? Esse arroubo de aventurismo? Não passava de um bancário, porque se metera nisso, meu Deus!

Agora encontrava-se ali, com Helios sob a sua cabeça, no auge do seu poder, oprimindo-o, dilacerando-o.

Fixava seus olhos ao longe, à espera da caravana salvadora, mas ela não aparecia, não vinha, não o salvava.

Conseguia sentir o mormaço, aquela presença esmagadora do calor, já não podia mais consigo mesmo, foi quando viu um falcão. Um falcão? Era a vertigem, não havia outra explicação, um falcão gigante, imponente, acima do bem e do mal. Era Atum zombando dele, da presunção de pisar em um terreno que absolutamente, não era o seu.

Começou a sentir a areia se movendo, o que era aquilo à frente? A areia escorria em aspiral, desesperado ele corria na direção contrária, tinha que ser rápido ou seria engolido, iria escorrer junto com a areia para aquela ampulheta sem fim.

Conseguia ouvir as asas do falcão batendo, era o som das gargalhadas dadas por .

Queria um enigma, algo que pudesse mudar sua sorte, “Decifra-me ou te devoro”, ele seria capaz de resolver… queria uma esperança.

Deitou–se de costas para a areia, olhava o céu límpido, claro, sem nuvens, viu Apolo com seu carro majestoso cortar o céu, ficou horas a olhar.

Então, viu Cuauhtemoc desaparecer.

Murmurava 33 graus, 43 graus, mil sóis, enquanto procurava o cantil de água.