sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Das coisas como são


Porque eu ainda queria você aqui. Porque ainda sinto o cheiro do seu suor. O peso do seu corpo cansado sobre o meu. Porque mesmo querendo dizer adeus, a frase que sai é fica mais um pouco. Porque sei fazer de cor o contorno das suas mãos. Porque todas as minhas músicas preferidas serviram de fundo para o nosso amor. Porque eu ainda quero mesmo sabendo que não deveria. Porque é difícil pra cacete. Porque seu cabelo é sedoso e pesado e escorregava entre os meus dedos como se tivessem crescido apenas para esse propósito. Porque eu vejo alguma sinceridade em seus olhos. Porque eu não sei explicar. Porque eu não posso mais e não vou. Fim.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Luzia-criança

                                      

Luzia brincava com um cacho dos cabelos. Enroscava no pequeno dedo indicador e depois soltava. Via o vai e vem da mola. Uma mola suave e castanha que pulava e continuava aos saltitos até parar. Passar o fim de semana na casa da avó era sempre uma lacuna, um espaço a ser preenchido nos seus dias já chatos de criança na escola. Se bem que achava a Tia Mariana uma ótima professora e gostava dos desenhos que ela fazia. Chato mesmo, de verdade, eram os traços que tinha que copiar e que falavam para ela que um dia viraria letra. L-E-T-R-A, letra letra letra letra letra..brincava com as palavras como mais velha continuaria fazendo, só que por escrito.

Correu para o balanço. O balanço de corda nada tinha a ver com o que tinha no parquinho da sua casa. Lá era feito num cercado de areia onde ficava tudo junto: o balanço feito de ferro, o escorregador em 3 tamanhos e um gira-gira. Lá era chato. Chato e seco. Mamãe dizia que era a parte do condomimio destinado a área de recleação. Não entendia. Sabia que não era como o balanço da vó, que tinha um cheiro gostoso e tinha a sombra boa da árvore.

Um passarinho estranho, não desses coloridões que ficam nas gaiolas, mas um pássaro branco e preto, que ficava de pulinho em pulinho, sem habilidade nenhuma para andar mas muita para voar, foi espreitá-la. Girava a cabeça de um lado ao outro. Luzia o imitou. Que quer, passarinho?

O passarinho deu alguns saltitos e quando ela pulou do balanço para pegá-lo, ele voou. Guardou essa cena na gaveta da memória e só a retirou muito tempo mais tarde, em uma aula de Literatura, quando a vozinha há muito já tinha ido voar com o passarinho preto e branco.

*uma homenagem ao Dia das Crianças
*e a Luna Sanchez que sempre me lembra que já passou o tempo de eu postar   =)