sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Batendo portas

Escovava os dentes olhando pra pia. Sentia as lágrimas escorrendo pelo rosto. Como consegue sentir as lágrimas mesmo com o rosto meio molhado? Fez bochecho e cuspiu. Olhou no espelho. Os olhos vermelhos representavam o adiamento de uma decisão.

Batons, calcinhas, chinelos e pulseiras espalhados pelo chão do banheiro. Enxugou o rosto. Abaixou a tampa do vaso sanitário e se sentou.

Soluçava copiosamente – estava a beira do desespero.

Depois de um tempo, muito tempo, foi para a sala. Saiu chutando todas as almofadas pelo chão. Ligou o rádio e deixou a música preencher o apartamento.

Por que doía tanto? Por que esse vazio que sentia e que nem a música era capaz de preencher? Porque essa imensa falta de si mesma quando a falta era pra ser de uma outra coisa?

Deitou-se no chão do apartamento, olhava as – infantis – estrelinhas fluorescentes coladas no teto, tinha até alguns cavalos-marinhos espalhadas entre elas. Resquício de algo que já não era.

Afundou-se entre almofadas e tristeza.

Ao longe ouviu a campainha tocando insistentemente. Se levantou com muita dificuldade e foi abrir a porta.

- Oi.

_ Nunca mais quero te ver, vá embora e não volte mais.

Bateu a porta para o seu futuro idealizado.


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Ouvindo If you don't wanna love me - James Morrison  quando escrevi

5 comentários:

Orianna R. Alves disse...

Profundo e intenso!

Lê Fernands disse...

putz! faltou realizar...

Érica Ferro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Érica Ferro disse...

Que post doído.
O amor fica complicado quando se desgasta, quando se perde, quando fica fraco.
E essa complicação nos faz sofrer.

Daniel Savio disse...

Será que somos eternos insatisfeitos?

Fique com Deus, menina Dai.
Um abraço.