segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Elephant Gun

          


Não que te esquecer adiantasse. Não. Esquecer-te só apagaria uma parte boa. Uma parte que faço questão de lembrar todos os dias. Sobretudo naqueles nos quais seu cheiro faz questão de ser onipresente. Mas tenho que esquecer. E por quê? Porque você insiste em não olhar o melhor de si mesmo e aceita as migalhas de pães que têm te oferecido como banquete. Quem sou eu para te julgar? Não sou eu mesma que me inclino e aceito, com sorriso nos lábios e coração disparado, as migalhas que me oferece? Sim. Aceito e me sacio. O pouco seu é o muito que me sobrepuja.

Rápidos somos em julgamentos. Indique-me uma só falha de caráter que não provenha da fraqueza. Fato é que somos ridículos. Pulhas. Indignos. Mais miseráveis do que qualquer dicionário seja capaz de qualificar. Ou um psicólogo. Ou psiquiatra. Ou psicopata. Não, este último me entenderia.

Os suicidas.

Tenho o sorriso benevolente dos que deram cabo a si mesmos. Sei que a fraqueza em última instância é capaz de trincar o próprio espelho. Penso muito sobre isso. Sobre como a fraqueza nada mais é que a confissão do mais alto narcisismo. Só alguém que se ama demais, que se poupa demais, que se guarda demais é capaz de se deixar fraco. O fracote nada mais é que um orgulhoso.

E eu sou assim: fraca. Derramo-me em ti como se fosse a única possibilidade. A única saída. Mas nada, entrego-me vez após vez porque a  única coisa que penso é em meu saciar.



Ouvindo: Elephant Gun

12 comentários:

Alisson da Hora disse...

Eu leio muitos blogs, mas confesso que muitas vezes não comento justamente para não fica falando besteira... Mas agora eu dou um pitaco sim: gostei demais do texto, do ritmo e da intensidade. =D

"O fracote nada mais é que um orgulhoso."

e não é que é?

Nara disse...

Ai Dai.

somente.

Beijo

MissUniversoPróprio disse...

Talvez seja mesmo isso. A eterna busca, no outro, de uma saciedade que se deveria encontrar em si.

Intenso. E imperfeito, como tudo que é real.

Érica Ferro disse...

No fim, o que vale mesmo é sentir-se saciado. :D

Gostei tanto desse seu texto, que peguei um trecho e publiquei no Facebook (com os devidos créditos, é claaaro). Teu nome é Daiany Maya, certo? Pronto, tá lá:

http://www.facebook.com/EriconaFerro/posts/307230932639187

Aliás, tomei a liberdade de adicioná-la lá.

Estava com saudades de ler o seu blog, sabia?

;*

renatocinema disse...

Show, principalmente a frase que simboliza o ser humano: Rápidos somos em julgamentos.

Unknown disse...

O melhor dessa entrega é esse resultado: um texto que parece escrito pelo corpo, com o corpo, no corpo.


Adorei!

Mirella de Oliveira disse...

Nossa, mas que texto lindo! Tão verdadeiro, tão intenso, tão... real. Gostei muito, Dai.

Escreves maravilhosamente. Senti cada palavra.

Beijão
:)

Luna Sanchez disse...

Nunca enxerguei o fraco como orgulhoso, Dai, primeira vez que alguém me sugere esse prisma...Achei muito, muito interessante.

Psicopatas são tão envolventes, não?

Manipular a realidade é um dom, faz a pessoa capaz de acender luzes de Natal em agosto, de pular Carnaval em outubro e compartilhar os confetes.

A vida é bem mais cheia de graça pra quem inventa a sua própria, quer por preguiça de viver a real, quer por fraqueza ou orgulho e assim voltamos ao início do meu comentário...E eu nem estou ouvindo "Elephant Gun".

;)

Um beijo.

Frau Forster disse...

Às vezes, nos saciamos com migalhas e nos tornamos mais infelizes - podendo isso ser bom ou não - ao constatarmos que precisamos e mais, muito mais. Eu vislumbro a padaria, pode? Pelo menos que me deixem um pão recheado com escarola - meu preferido =)

Belíssimo texto

Mil beijos

Unknown disse...

Confesso: Eu também sou fraco.

Belo texto.

Abraços Imundos...

euretrato disse...

E tão fácil criticar, apontar a falha alheia quando não nos damos conta de que nós, em uma outra situação, imploramos por essas mesmas e outras tantas migalhas.

Lindo texto.
Um beijo!

Roselia Bezerra disse...

Olá,
Senti um amor grande e a palavra esmolar (migalhas) me soa distoante do que seja o verdadeiro amor... mas faz parte do cotidiano de muitos de nós... É pena!!!
Bjm de paz e alegria