sábado, 26 de dezembro de 2009

Entre linhas e posts

    A vizinha do apartamento do andar de baixo já tinha ligado para o síndico 4 vezes! Não aguentava mais ouvir a gritaria que vinha do 216. Um inferno. Enquanto o casal do 216 se acusava, gritavam um com outro, esmurravam a parede e chutavam almofadas. Ainda não tinha partido pra porrada porque sobrara algum vestígio de respeito, mas estavam a beira disso.
    Ela desenterrava as brigas dos primeiros meses de namoro, não havia frases que não começassem com "Você lembra aquela vez...?", e ele passava as mãos no cabelo nervoso, a ponto de arracar de si mesmo os cabelos da têmpora. Por fim ele disse que não dava mais, que a amava muito, mas que não era só de amor que se construia um relacionamento, que havia outros fatores...
    _ O que foi? Agora você vai me dizer que eu não sou boa de cama, é isso?
    _ Nossa! Como você é histérica, não entende nada nunca, não é?
    _ Ah...agora sou burra? Não entendo nada?!
    Tentava enxugar as lágrimas que escorriam pelo rosto.
    _ Chega! É ínutil, vou pegar minhas coisas, tô indo embora. Vou pra casa da minha mãe, e acho melhor a gente não se falar por agora, é melhor esperar as coisas esfriarem.
    _ Falou em frio é com você mesmo.
    _ Sem sarcasmos, não vamos nos machucar mais.
    Foi até a cômoda, pegou as roupas que mais usava, enfiou tudo na mochila de acampar, mais alguns pares de tênis, foi buscar a escova de dentes no banheiro. Ela vai atrás dele.
    _ André, não faz assim, vamos conversar, a gente pode se acertar - tentou sorrir - afinal de contas, quem não briga? Não é mesmo?
    Ele pega as últimas coisas, anda pelo apartamento para conferir se não esqueceu nada muito importante.
    _ Tchau - beija-lhe a testa -, a gente pode ser feliz ainda. Mesmo que sozinhos, talvez apenas sozinhos.
    Fecha a porta deixando a chave no aparador. Ela enconsta-se na porta, chora copiosamente, escorrega até o chão, fica lá por alguns minutos, horas talvez. Se levanta, pega um vinho que já estava aberto na geladeira, liga o note. Entra no Amor de papelão e passa um longo tempo lendo, enquanto acaba com a garrafa ao lado.
    Com o rosto já seco, a queixo apoiado na mão, termina de ler o último post.
    _ Não derramo nem mais uma lágrima, aquele canalha nunca me mereceu! Nunca escreveu um recadinho desses pra mim, nem em papelão, guardanapo, nem nada!
    Procura o celular entre as almofadas.
    _Alô? Carlos? É...faz tempo...
   

7 comentários:

Ivan disse...

Maya!!!!!!! Que texto super! Adoro histórias assim! Como você conseguiu tecer detalhes sem viver uma situação como essa? Ou será que viveu? Eu vivi. Algo parecido [sem o beijo na testa.. rs]. Independente de ter passado na pele ou não, o fato é, senti a emoção da cena. É horrível. Uma honra ter o amordepapelão no enredo. Você o encaixou de forma maestral. Fantastic!

Obrigado pelo e-mail. De vírus, só entendo de mantê-los distante. Inclusive faz tempo que não utilizo antivirus nas minhas máquinas. Decidir ir pro estilo 'dancing with the devil'.

Beijocas e Feliz Ano Novo.

Luna Sanchez disse...

Rs

O amordepapelão faz todos os outros homens do planeta parecerem incompetentes e insensíveis, né, Maya? Também sou apaixonada por ele. =)

* Acho que o cara fez certo, sabe? Discutir com alguém fora do eixo, é desperdício de energia, e nunca resulta em algo bom. Deixar a conversa para depois, é civilizado.

Beijo, beijo.

ℓυηα

Daiany Maia disse...

Ivan,

Não vivi ainda, mas tenho a ligeira impressão de que seria eu a deixar o apê...rs
Esse texto começou com a música "Atrás da porta" do Chico, que pra mim, é a imagem de abandono melhor capturada! E depois parti pra sua resposta do Amordepapelão e tive a ideia.
É uma proposta pra esse ano, fazer intertextos com outros blogs.
E é lógico que o Sem Rédeas não ficará de fora também!
bjo

Daiany Maia disse...

Luna,

Só parece ou deixa? rs

Deixar a conversa para depois de fato é a melhor escolha, mas nem sempre é a que se faz, né?

Eu, boa ariana que sou, gosto de exaurir o assunto na hora, depois nem me lembro, se durmir então! É como se nem tivesse existido o problema! rs

bjo bjo

Luna Sanchez disse...

Tá bom, admito : não só parece, DEIXA de verdade! Rs

=**

ℓυηα

[P] disse...

Maya, sou muito suspeita para escrever qualquer coisa, haja visto que tenho surtos tais quais o da mocinha do post [não espalaha, é segredo!]. Portanto, acho mais do que necessário concordar quando ela diz que não darramará mais lágrimas por um alguém que nunca transmitiu para ela toda aquela sensibilidade do "Amor de Papelão".

[Aliás, homens, geralmente, fazem papelões, ao invés de declarar o que sentem no papelão, né?]

Um beijo, moça. E um 2010 cheinho de coisas boas na sua vida!

Daiany Maia disse...

[P]
Eu tb tenho os meus pitis, e concordo com vc, de alguma forma a pessoa tem que trasmitir aquilo que ela sente.

A coisa anda tão feia que tem uns homens que nem papelões fazem, são insossos insossos

Pra vc tb! Que seja um ano cheio novidades, de prefêrencia, mto mto boas!


Beijo