terça-feira, 9 de novembro de 2010

Nessa cidade nem tem mar e tu nao sabe escrever




A quebra de expectativa é sempre um choque. É engolir a seco uma ou duas roelas de  7 cm.

Muitas vezes a gente chega com um ar despretensioso. Colocamos as mãos nas costas, tiramos do bolso nossa melhor cara blasé e em frente ao outro, dizemos:

 - “Só o que eu queria saber era quem tinha quebrado minha garrafa, enozado minha tarrafa*”. Em outras palavras:  não quero nada, só esclarecer alguns pontos, só quero falar um pouco sobre as minhas coisas.

E de fato, nos expomos em toda a nossa fragilidade. Pegamos nossa trouxazinha de pertences e colocamos aos cuidados do outro. Não é grande coisa, mas com o tempo passamos a valorizar como se tudo dependesse dessa trouxazinha de pertences, dessa trouxazinha de personalidade, dessa trouxazinha de quem eu sou.

O problema é que o ar blasé não convence mais. E o saco de coisa nenhuma com os nossos pertences está encardido e a gente não tem mais nada, e o outro percebe isso. E quando o limite chega, quando se está farto de tudo, a verdade é posta diante dos nossos olhos:

- “Nessa cidade nem tem mar e tu não sabe escrever”.

O flagrante. Somos pegos nus. Despidos de toda máscara de auto-valorização. De que adianta isso? – o outro nos pergunta.

No ápice da crueldade que algumas verdades possuem, somos inquiridos:

- Aqui não tem mar, por que você está discutindo isso? Por que arrasta essa maldita tarrafa como se ela te adiantasse alguma coisa?

Não, aqui não há mar.

E, esclarecidos que aquele qualidade, aquela tarrafa-eu não adianta de nada, percebemos o quanto estamos perdidos:

- E tu não sabe escrever.

O que é isso senão a exigência do outro?

- O que você tem não me adianta, não nos adianta de nada. O que eu preciso você não sabe fazer. Não me despe em signos. Não (des)escreve meus pensamentos. Não me poetiza em ti.

"Nessa cidade nem tem mar e você não sabe escrever".  



* rede de pesca
A música se chama Pouco Importa do grupo Apanhador Só

6 comentários:

disse...

Minha cidade tem mar heim :D

[o comentário mais sério eu já te disse diretamente :P]

disse...

na verdade, o comentário menos cretino

Lipe disse...

Que bom que te inspiraram a escrever algo!

Eu disse que as letras eram interessantes!

Desculpas esfarrapadas quando estamos em farrapos, caem como luva.

Beijo.

Daniel Savio disse...

Sempre estaremos perdidos quando não vemos o que é real, seja pela ilusão que botamos em frente aos nossos olhos, ou devido a fé impensada.

Mas neste momentos, temos de repensar o que fizemos e seguir em frente atrás do real que dá certo,

Fique com Deus, menina Dai.
Um abraço.

Déia disse...

Hei Dai,

O Ivan vem pra cá semana que vem, vc podia vir tb! Que tal?
Aqui tem piscina, serve? rs
bj

Lê Fernands disse...

desculpas esfarrapadas não me cabem... sempre entram de mal jeito e ficam machucando como o calo no pé. quando sara, cai a casca e o mentiroso tbm!


rsrs


bjs meus