
Não que te esquecer adiantasse. Não. Esquecer-te só apagaria uma parte boa. Uma parte que faço questão de lembrar todos os dias. Sobretudo naqueles nos quais seu cheiro faz questão de ser onipresente. Mas tenho que esquecer. E por quê? Porque você insiste em não olhar o melhor de si mesmo e aceita as migalhas de pães que têm te oferecido como banquete. Quem sou eu para te julgar? Não sou eu mesma que me inclino e aceito, com sorriso nos lábios e coração disparado, as migalhas que me oferece? Sim. Aceito e me sacio. O pouco seu é o muito que me sobrepuja.
Rápidos somos em julgamentos. Indique-me uma só falha de
caráter que não provenha da fraqueza. Fato é que somos ridículos. Pulhas.
Indignos. Mais miseráveis do que qualquer dicionário seja capaz de qualificar.
Ou um psicólogo. Ou psiquiatra. Ou psicopata. Não, este último me entenderia.
Os suicidas.
Tenho o sorriso benevolente dos que deram cabo a si mesmos.
Sei que a fraqueza em última instância é capaz de trincar o próprio espelho.
Penso muito sobre isso. Sobre como a fraqueza nada mais é que a confissão do
mais alto narcisismo. Só alguém que se ama demais, que se poupa demais, que se
guarda demais é capaz de se deixar fraco. O fracote nada mais é que um
orgulhoso.
E eu sou assim: fraca. Derramo-me em ti como se fosse a
única possibilidade. A única saída. Mas nada, entrego-me vez após vez porque a única coisa que penso é em meu saciar.
Ouvindo: Elephant Gun