Esses dias li um texto, e não consigo achar onde foi, em que o autor argumentava que quando ele era mais novo as pessoas morriam por fatalidade, acidente, idade..., enfim, morriam, mas que hoje em dia as pessoas morrem por incompetência. Ele argumentava, ironicamente, que hoje não se morre simplesmente, se morre porque comeu demais, bebeu demais, fumou, comeu gordura trans, não fez exercício, jogou sacola plástica na rua, enfim, não teve aquela vida saudável que as pessoas hoje em dia apregoam que todo o mundo deve ter.
Desculpe dizer, mas se você não morrer com pelo menos 132 anos, você é um fracassado.
Essa “filosofia” ridícula que anda sendo disseminada, a dos super-homens e super-mulheres, afeta outras áreas. Você e eu não temos mais o direito de sermos feios.
Ow! Eu quero minha liberdade de volta. Antigamente as pessoas eram feias, tinham os dentes tortos, uma barriguinha saliente e ok, tudo bem. O tempo e o azar chegam para todos. Mas atualmente não é mais assim. Você não pode simplesmente pegar sua cara desprivilegiada e sair pela rua com uma blusa brega. Além de feio você será considerado desleixado. Toda pessoa que não se encaixar no padrão de beleza de uma minoria photoshopada é excluída.
Eu quero ser feio, e daí? Posso?
Não, não pode – grita a sociedade hipócrita, que se aperta dentro de uma cinta, um sutiã de bojo com bolha e se esconde atrás do pancake.
Quantas vezes eu ouço que determinado bar, restaurante é muito bom – só tem gente bonita?
E por acaso eu estou indo lá para comer e beber as pessoas? Bonitas segundo quem? A Playboy? A Você S/A? O fato é que somos humanos, feiozinhos e desengonçados. E sobretudo, a grande maioria: pobres.
A liberdade de ser feio foi excluída porque há muitos recursos hoje, é o que dizem. Que vá fazer plástica, lifting, drenagem, academia, dieta, tome remédio, escovas progressivas/inteligentes/docesefrutas, que nasça de novo, se preciso for.
Agora me digam aí, rainhas e reis da beleza, com que dinheiro? Com os R$ 560,00 que as pessoas se rebolam para sobreviver?
Eu conheço pessoas lindas, inteligentes, divertidas e tudo o mais. Um pacotão completo, sabe? E conheço outras que não são tão bonitas mas a inteligência delas é afrodisíaca. Conheço pessoas que são divertidas e espertas e – meu Deus, apesar daquele nariz, eu o quero pra mim.
É preciso rever valores, realidades, preconceitos. A mídia bombardeia um padrão de beleza que não é nosso. Que não é o natural, o palpável, o atingível. Eu não vejo muitas propagandas dizendo por aí que você tem que procurar se interar mais sobre assuntos variados e ser uma pessoa mais leve, divertida. E isso sim é possível.
Eu não sou a Angelina Jolie. Me faltam uns 20 cm de altura, quilos a menos, boca a mais, cor do olho, centímetros de cabelos a mais – me falta ser quem eu não sou.
Eu quero poder ser normal, se isso for ser feio, que seja. Eu não sou feita de fibra e plástico.