Atravessou a rua sem olhar para os lados. Foooooom, pula para trás. Não enxerga não, pô? Ai que caramba, não vou conseguir catar todas as miçangas...Pega lentamente as miçangas da pulseira que arrebentara. Atravessa a rua agora usando a faixa de pedestres. Oi Dona Maria, minha mãe tá aí? Tá sim fia, Ôôô Fátima.
_Que que foi? Ô Luiza, se for dinheiro nem precisa pedir...
_Pô mãe, todo mundo vai lá na casa do Fabin, só que vai pedir lanche, que quieu faço? Vô fica olhano?
_Problema seu, por mim nem ia.
_Porra meu, por isso que não gosto de fala nada, toda vez é isso aí, tenho que fica mindigano.
_Quanto cê quer?
_Uns 10 mango.
_Cê acha qui cai du céu?
Pega o dinheiro que a mãe lhe dá. Sai correndo pela porta.
Já na rua olha o dinheiro desconfiada, era uma nota só, mas vai que sua mãe tentou lhe passar a perna. Nossa, se eu não comer nada dá pra eu usar uns três dias. "Estranho seria se eu não me apaixonasse por você, o meu allstar azul combina com o seu, de cano alto..." Olha para os próprios pés, e vê seu tênis, desgastado, desbotado e emprestado, pelo menos oficialmente, tinha surrupiado o tênis do primo há 2 anos, no começo ficava grande, agora já estava apertado.
Atravessa outro quarteirão, pára em frente a padaria, aspira por alguns momentos o cheirinho de pão que exala lá de dentro, Ô coisa boa, podia gastar só um pouquinho...Balança a cabeça como que para afugentar a própria ideia, como se não pudesse ceder àquilo, como se fosse pecado...
Estava ofegante, não podia perder tempo, já sabia como funcionava, podia até atrasar um pouco, mas havia um limite e se não chegasse a tempo…
Soejaievhis. O que?
Alguém, já não distinguia sexo, idade, cor, simplesmente alguém que pedia a ela alguma coisa, uma moeda, um salgado que ele(a) já não comia há três dias, tinha 3 filhos pequenos para criar… Não tenho trocado, não. Continua em direção ao seu objetivo.
Vira mais uma esquina, pronto, lá estava ele, majestoso, imponente, cheio de si: o teatro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário