Escovava os dentes olhando pra pia. Sentia as lágrimas escorrendo pelo rosto. Como consegue sentir as lágrimas mesmo com o rosto meio molhado? Fez bochecho e cuspiu. Olhou no espelho. Os olhos vermelhos representavam o adiamento de uma decisão.
Batons, calcinhas, chinelos e pulseiras espalhados pelo chão do banheiro. Enxugou o rosto. Abaixou a tampa do vaso sanitário e se sentou.
Soluçava copiosamente – estava a beira do desespero.
Depois de um tempo, muito tempo, foi para a sala. Saiu chutando todas as almofadas pelo chão. Ligou o rádio e deixou a música preencher o apartamento.
Por que doía tanto? Por que esse vazio que sentia e que nem a música era capaz de preencher? Porque essa imensa falta de si mesma quando a falta era pra ser de uma outra coisa?
Deitou-se no chão do apartamento, olhava as – infantis – estrelinhas fluorescentes coladas no teto, tinha até alguns cavalos-marinhos espalhadas entre elas. Resquício de algo que já não era.
Afundou-se entre almofadas e tristeza.
Ao longe ouviu a campainha tocando insistentemente. Se levantou com muita dificuldade e foi abrir a porta.
- Oi.
_ Nunca mais quero te ver, vá embora e não volte mais.
Bateu a porta para o seu futuro idealizado.
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5 comentários:
Profundo e intenso!
putz! faltou realizar...
Que post doído.
O amor fica complicado quando se desgasta, quando se perde, quando fica fraco.
E essa complicação nos faz sofrer.
Será que somos eternos insatisfeitos?
Fique com Deus, menina Dai.
Um abraço.
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