Um tapete pistache, e sobre ele uma escrivaninha antiga, reformada e gasta. O som de uma máquina de escrever se fazia ouvir por todo o apartamento. Uma folha amassada voa pelo ar, bate no aro da lixeira e cai ao lado de muitas outras no chão.
Apaga o cigarro ansiosamente no cinzeiro, acende outro, toma o uísque misturado com a água derretida de dois cubos de gelo que havia colocado.
Levanta-se, abre a cortina e avista o céu, sem estrelas, sem lua, sem nada.
Vai até o rádio, coloca um vinil e curte Palo Seco. Volta à escrivaninha, coloca outra folha, ajusta novamente o parágrafo, só por hábito. Os dedos lutam contra as teclas já apagadas pelo uso. Pára. Nem um vislumbre de idéia lhe surge na cabeça. Vai à cozinha, abre a geladeira com certa dificuldade, a porta sempre emperrada.
Volta para sala, senta-se na poltrona velha de couro marrom, acende outro cigarro, dá três tragos e apaga-o. Dá uma olhada na folhinha de supermercado com o calendário daquele ano, marcado em vermelho, um xis com uma anotação ao lado: Prazo esgotado. Isso seria dali a dois dias.
Volta à máquina, pede por um clarão, mas até a noite escura parecia dizer que não cooperaria. Bate o pé direito no piso de taco acompanhando a melodia.
Pega um lápis, começa a rabiscar um papel, se torna mais interessado no guardanapo, lembra que o endereço daquela morena, que conheceu ontem no bar está ali. Rele o endereço, é perto, talvez passe lá mais tarde.
Sorri.
Tinha que entregar o texto daqui a dois dias e em mais de cinco horas não havia conseguido escrever um parágrafo se quer. Resolveu tomar um conhaque.
Acho que vou passar na casa do Fabinho. Toma o conhaque de um trago só.
Vai ao banheiro. Bate o pé no bidê. Xinga. Levanta a tampa do vaso. Não dá descarga. Pára em frente ao espelho, por que barba cresce tão rápido? Lava o rosto. Dá três tapinhas na bochecha. Ô, vida de cão.
Senta-se à escrivaninha novamente, e começa, sem muita inspiração:
Era um tapete na cor pistache.
Nenhum comentário:
Postar um comentário